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Alunos da EPSJV visitam fábrica ocupada por trabalhadores

Turma da Educação de Jovens e Adultos conheceu de perto a experiência de uma fábrica administrada por seus próprios operários
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 01/12/2017 10h20 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) visitaram, nos dias 18 e 19 de novembro, a Flaskô – uma fábrica de tambores plásticos em Sumaré (SP), na região metropolitana de Campinas. Ocupada pelos seus funcionários em 2003, em meio ao processo de falência de seus antigos donos, ligados à  empresa Tigre, a única fábrica sob controle operário do Brasil permanece produzindo e gerando emprego e renda para dezenas de trabalhadores, que administram, eles mesmos, todas as etapas da produção.

O objetivo da visita, segundo o professor-pesquisador da EPSJV, Marcelo Coutinho, foi oferecer aos educandos o conhecimento sobre a realidade dos trabalhadores da fábrica, proporcionando uma experiência formativa e visando a autonomia dos trabalhadores. “O interesse em conhecer a fábrica tem a ver com a própria proposta formativa da EJA Manguinhos, que se baseia na educação territorializada, aproximação com os movimentos sociais e experiências de luta e resistência como a da Flaskô”, explicou Marcelo, que foi um dos organizadores da atividade, juntamente com os professores Nathália Barros e Marcus Pedrosa e a oficineira Suelle Araújo, todos da EPSJV.

“A importância da visita está na formação sobre as estratégias de organização da classe trabalhadora que lá encontramos”, ressaltou Suelle. “Tivemos uma verdadeira aula sobre o modo de organização de tarefas, a preocupação com a capacitação de profissionais, a prioridade da vaga de serviço para as pessoas que estão fora do mercado de trabalho e as oportunidades profissionais para ex-detentos”, contou Vanderley Quirino, aluno da EJA.

Na visita, os alunos participaram de uma roda de conversa sobre a Vila Operária da Flaskô, com as lideranças comunitárias Neusa Rossique e Alessandro Rodrigues. No dia seguinte, fizeram um reconhecimento da Vila Operária e participaram de outra roda de conversa com Pedro Além Santinho, outra liderança local. Pedro contou um pouco do histórico de lutas e resistência da Flaskô e distribuiu livros para todo o grupo, doando outros para a EJA Manguinhos. Além disso, Pedro realizou uma visita guiada pelo setor de produção, explicando todo o processo de fabricação das chamadas bombonas, embalagens industriais nas cores azul e preta.

“Esses trabalhadores se uniram por um propósito e lutam até hoje para manter a fábrica funcionando. Ver a forma como eles trabalham é muito interessante. O trabalhador tem voz e vez naquilo que é do coletivo. Quando uma empresa pensa dessa forma, ajuda no crescimento do funcionário, que tem determinação para lutar. A luta é constante para manter a fábrica aberta”, destacou a aluna da EJA Shirley Cândido. E completou: “O que aprendi dessa experiência é que a gente pode fazer a diferença, não individualmente, mas coletivamente. Temos direitos e eles precisam ser respeitados”.

Dívida e incerteza

Desde a ocupação, que ocorreu em 12 de junho de 2003, os trabalhadores da Flaskô  implantaram  medidas que explicitam a diferença entre uma fábrica gerida por um patrão e uma gerida pelos operários. Todas as decisões são tomadas em assembleias, gerais e de turnos; e a jornada de trabalho foi reduzida de 44 para 30 horas semanais, sem redução de salários. Também foram diminuídas as diferenças salariais, ou seja, as funções mais bem remuneradas passaram a ganhar menos e as de remuneração menor tiveram seu valor aumentado. Além disso, os trabalhadores compreendem a importância da interação com a comunidade local, tendo sido criada logo no início da ocupação, a Fábrica de Cultura e Esportes, que desenvolve diversos eventos e ações culturais para a comunidade, como o Festival da Flaskô.

Mas, apesar das vitórias trabalhistas, a vida dos funcionários permanece na incerteza: a Flaskô sofre a ameaça de fechar a qualquer momento. Nos últimos 11 anos de ocupação, foram diversos pedidos de leilões de máquinas e penhora de bens e a dívida já ultrapassa os 120 milhões de reais.