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EPSJV/Fiocruz promove série de vídeos e podcast em parceria com MST e Canal Saúde

Materiais são desdobramentos de dois projetos da Escola Politécnica sobre a saúde da população LGBTI+ do campo
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 18/07/2023 14h12 - Atualizado em 19/07/2023 14h52

O mês do Orgulho LGBTQIA+ é celebrado em junho, mas as ações que professoras-pesquisadoras da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) têm desenvolvido em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) terão impactos permanentes na promoção da saúde da população do campo. Exemplo disso é a série de oficinas de audiovisual e podcast, organizadas em parceria com o Canal Saúde, da Fiocruz, sob a coordenação das professoras-pesquisadoras da Poli, Anakeila Stauffer e Daiana Crús. Em parceria com membros do Coletivo LGBTI+ Sem Terra, foram produzidos três vídeos e um episódio de áudio, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP), nos dias 28 e 29 de junho.

As oficinas são um dos desdobramentos do projeto Saúde e prevenção das violências contra a população LGBTI+ do campo. Segundo Anakeila, nos últimos anos, houve um avanço do conservadorismo que afetou as políticas públicas e, sobretudo, no caso das pessoas LGBTI+, um agravamento da violência e ameaça à vida dessas pessoas. “É por isso que esse projeto se torna de extrema relevância, e ainda mais em uma escola como a nossa, que tem a proposta de estar junto, acompanhar e criar ações pedagógicas e políticas junto aos grupos subalternizados. Nesse sentido, a gente precisa aliar a questão da produção do conhecimento com essa urgência das lutas sociais contra as violências que sofrem cotidianamente”, ressaltou. 

Para Thaysson Campos, do coletivo LGBTI+ Sem Terra, que participou das oficinas, foi um momento não só de conhecimento, mas também de união e fortalecimento. “De fato, sabemos que nós, LGBTI+ do campo, temos pouquíssimo acesso a essas coisas, mas essa oficina nos proporcionou muito mais do que esperávamos. Foi um momento em que trouxemos nossas particularidades, mas também o que nos une, e realmente analisamos o quanto isso nos fortalece e nos ensina”, afirmou. Para ele, é importante que se tenha mais espaços de diálogos e escuta: “Esperamos ter mais momentos como esse, para que possamos avançar nesse debate, que é de extrema importância em nossos espaços. As oficinas nos possibilitaram expressar nossa realidade e dar visibilidade a quem necessita, com respeito e dedicação”.

Na visão de Gustavo Audi, que atua na Superintendência do Canal Saúde e que ficou responsável pela Oficina de Podcast, é sempre gratificante ensinar pessoas que realmente querem aprender e que precisam aprender. “Eles precisam muito de conteúdo, tanto para explicar para as pessoas sobre a questão, quanto para sensibilizar. Então, ensinar a produção de podcast para essa galera foi muito bom, porque você via a vontade deles em aprender, e eles aprenderam mesmo, saíram de lá já com produtos prontos e com a vontade de continuar produzindo. O que é fenomenal, né?”, comemorou.

Para Nicole Leão, também da Superintendência do Canal Saúde, e que atuou à frente da Oficina de audiovisual, foi uma experiência incrível por ter uma turma extremamente diversa. “Isso trouxe uma riqueza e uma potência muito grande para a oficina. Foi um processo formativo bastante participativo e baseado em um processo de troca e de construção coletiva do conhecimento”, destacou. E acrescentou: “Para além das orientações técnicas, falamos sobre como transformar uma ideia em um produto comunicativo. Então, a partir das vivências dos participantes como pessoas LGBTI+ do campo, fomos construindo esses vídeos”.

Um projeto amplo e duradouro

O projeto Saúde e prevenção das violências contra a população LGBTI+ do campo, foi iniciado em março de 2023, por meio de uma parceria entre o Coletivo LGBTI+ Sem Terra, do MST, e a ESPJV/Fiocruz. A coordenação do projeto conta com as professoras-pesquisadoras Anakeila e Daiana e os representantes do MST, Aline Luana Chaves e Flávia Tereza da Silva.

O objetivo dele, segundo Daiana, é aprofundar o processo de formação da população LGBTI+ residente no campo, vinculada ao MST, sobre a prevenção de violências contra esta população do campo. “Tudo isso por meio da educação popular, destacando sua interlocução com o direito à saúde, suas condições de acesso e as necessidades específicas de saúde deste grupo”, explicou.

Para cumprir esse objetivo maior, de 28 de junho a 2 de julho de 2023, foram realizadas três diferentes oficinas com membros do coletivo LGBTI+ Sem Terra. Uma oficina nacional dedicada à socialização de ações de Educação Popular em Saúde LGBTI+ no campo, que propiciou, por meio de um processo de reflexão coletiva, a consolidação de um rol de ações e atividades efetivas que darão, segundo Daiana, continuidade ao processo de formação desses e de novos educadores e educadoras do campo.

Foi realizada também uma segunda oficina de produção textual para analisar os dados da pesquisa Condições de vida e saúde da população LGBTI+ do campo, que está no escopo do projeto Saber Protege: saúde e prevenção de epidemias e infecções sexualmente transmissíveis – IST/HIV no campo. E uma terceira oficina de materiais de apoio para a campanha contra a LGBTI+fobia, que vem sendo desenvolvida pelo Coletivo LGBTI+ Sem Terra nos territórios vinculados ao MST. “Esta oficina de materiais para a campanha atende à necessidade de disseminação de conhecimentos e práticas sociais e de saúde que possam interferir na qualidade de vida das pessoas LGBTI+ que vivem nos territórios de assentamento e acampamento mais distantes da Reforma Agrária, buscando contribuir para o esforço de mobilização de ações de educação popular", comentou Daiana, que explicou ainda que dentro deste objetivo de apoiar a campanha contra LGBTI+fobia no campo é que  foram realizadas as oficinas de produção de materiais audiovisual e de produção de podcast. 

Assista aqui!

Vídeo: Falas LGBTfóbicas: Preconceito silencioso

Vídeo: Me chame pelo meu nome

Vídeo: Corpo e Território

Podcast: Terra de quem? 

O projeto inicial

No segundo semestre de 2022, já haviam sido produzidas outras peças audiovisuais no âmbito do projeto Saber Protege: saúde e prevenção de epidemias e infecções sexualmente transmissíveis – IST/HIV no campo, coordenado pelas professoras-pesquisadoras Anakeila e Daiana e os representantes do MST, Aline Luana Chaves, Flávia Tereza da Silva e Alessandro Mariano.

Os vídeos também foram elaborados por participantes do Coletivo LGBTI+ Sem Terra, com o apoio da Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho, do MST. Um deles foi sobre Saúde Mental LGBTQIA+, a partir de conversas realizadas com especialistas em saúde mental e integrantes da comunidade LGBTQIA+ do campo, durante o Curso de Formação de Educadores/as Populares em Saúde LGBTI+ do campo e prevenção às IST/HIV/AIDS, abordando as vivências, experiências e os aprendizados nesse tema.  

Um segundo vídeo fez um panorama do Curso de Desenvolvimento Profissional de Educadores/as Populares em Saúde LGBTI+ do campo e prevenção às IST/HIV/Aids, com falas dos integrantes do Coletivo LGBTI+ Sem Terra, e da coordenação do curso. E um terceiro vídeo que aborda o tema da Orientação Sexual e Identidade de Gênero, a partir do relato dos estudantes desse mesmo curso.