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Escola Politécnica promove Seminário de revisão curricular dos Cursos Técnicos de Nível Médio em Saúde

De 31 de julho a 7 de agosto, professores-pesquisadores se reuniram para debater mudanças no plano do curso técnico de nível médio em saúde da EPSJV, com foco em uma educação politécnica e antirracista
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 10/08/2023 09h15 - Atualizado em 10/08/2023 09h36

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) reuniu, de 31 de julho a 7 de agosto, professores-pesquisadores e coordenadores da formação geral do Ensino Médio e das habilitações dos cursos técnicos, além de profissionais da Vice-Direção de Ensino e Informação, em um seminário de revisão curricular dos Cursos Técnicos de Nível Médio em Saúde (CTNMS). Durante esses dias, eles debateram sobre mudanças e possíveis alterações nas disciplinas da EPSJV, adequando os conteúdos à agenda da educação politécnica antirracista. As mudanças no currículo serão implementadas a partir das turmas de 2024.

Para Ingrid D’avilla, vice-diretora de ensino e informação da EPSJV, são vários os desafios de revisar currículos de instituições de ampla expressão nacional, como é a Escola Politécnica. “Dente eles, o reconhecimento do legado de muitos docentes que já concretizam ações que vão além do esperado da Lei nº 10.639 de 2003, que tornou obrigatório o estudo de história e cultura africana e afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio no currículo escolar; a contínua necessidade de estimular a reformulação e a implementação de práticas educativas que atualizem a educação politécnica à luz dos desafios da sociedade brasileira nos dias atuais; e a possibilidade criar espaços de troca e análise sobre as relações étnico-raciais e a saúde da população negra e dos povos originários como condição fundamental para a efetivação do direito à educação e à saúde no Brasil”, apontou.

No plano local, Ingrid ressaltou a experiência de realização do sorteio público para o CTNMS como método de ingresso dos estudantes na ampla concorrência e nas cotas, que acontece desde 2020. “Essa decisão tem modificado a Escola, fazendo com que ela seja cada vez mais pública, diversa e inclusiva. Além de mudanças nas disciplinas, considero fundamental pensarmos como a Escola, em seu sentido mais amplo, pode materializar a inclusão, o pertencimento e a permanência de seus estudantes como parte de sua cultura institucional: politécnica e antirracista.  São lições e desafios valiosos e significativos para a Educação Profissional em Saúde”, afirmou.

Para o coordenador geral do Ensino Técnico de Nível Médio em Saúde da EPSJV, Jonathan Ribeiro, esse espaço para debater a educação politécnica antirracista em uma perspectiva contra-hegemônica é de extrema importância porque coloca pautas e pontos que os professores, ao se apropriarem e construírem reflexões, podem levar para os estudantes bibliografias e debates científicos por meio de saberes institucionalizados. “Acredito que os docentes conseguiram deixar claro os pontos pacificados e os pontos polêmicos, como é esperado em um espaço de debate. Há professores que já exercem esse currículo, mas há também os que têm maiores dificuldades em função da natureza de determinadas disciplinas. Todos eles entraram no desafio de buscar essa perspectiva como possibilidade de construir um novo fazer na Escola”, comentou Jonathan.

Na visão dele, é importante ressaltar o desafio dessa revisão curricular, porque os docentes foram formados em currículos euro-norte-americano centrados. “O movimento não é substituir esses autores e nem colocar apenas autores brasileiros - mesmo porque muitos autores antirracistas também estão nesse círculo entre Europa e Norte América. É trabalhar em um ponto em que não percamos de vista a nossa formação, mas que consigamos lançar luz em metodologias e teorias que antes eram subjugadas ou desprezadas. Nesse sentido, houve uma boa troca e uma formação rica entre os docentes”, ressaltou o coordenador geral do Ensino Técnico.

Na mesma linha, a professora-pesquisadora Valéria Carvalho, coordenadora do Laboratório de Formação Geral e Educação Profissional em Saúde da EPSJV, destacou a importância do seminário: "Foi um momento importante para aprofundarmos a formação e o compromisso como educadores antirracistas e para fortalecermos e proporcionarmos a formação de trabalhadores técnicos da saúde comprometidos com as pautas, a formulação e a efetivação de políticas públicas e lutas antirracistas. Assim como, reforçarmos o compromisso da escola com as políticas de reparação, reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade das populações negras e das populações indígenas". 

Para ela, o seminário evidenciou ainda o avanço e a coerência do compromisso da Escola Politécnica no que diz respeito à formação da classe trabalhadora em uma perspectiva de emancipação. “Nesse sentido, é urgente que as reflexões e formulações acerca da educação politécnica-omnilateral avancem no sentido da perspectiva antirracista”, concluiu Valéria.

Mudanças no currículo

Depois de dias intensos de discussão, foi apresentada a síntese da nova proposta de grade curricular e apontamentos gerais com as alterações. Uma das deliberações foi o aumento da carga horária da disciplina de Química no 1º ano do ensino médio. Houve ainda mudanças no formato das "Atividades diversas”, que se tornaram obrigatórias para o 1º e 2º ano. Jonathan explicou: “Como esse é um componente curricular que entra no histórico dos estudantes, estabelecemos critérios e normas para que eles cumpram, pelo menos, o mínimo desse componente curricular que é um espaço para possíveis integrações, aulas de apoio, encontro dos coletivos estudantis, dentre outras atividades propostas por docentes”. 

Outra definição foi em relação ao acompanhamento dos docentes do Eixo Trabalho, um componente curricular que está na grade do 1º ano. “Ficou definido que os professores acompanhem e voltem para conversas pontuais no momento do estágio desses estudantes no 4º ano”, destacou Jonathan.

Habilitações técnicas

Na habilitação de Análises Clínicas, será implementada na grade do 1º ano uma nova disciplina que reúna conceitos fundamentais, como cálculos básicos. “Nosso objetivo é permitir que esse estudante tenha uma fundamentação básica com saberes adensados com as disciplinas que virão a seguir”, explicou o professor-pesquisador Flávio Paixão, que coordena a habilitação, junto com a também professora-pesquisadora Mônica Murito.

Em relação à habilitação de Biotecnologia, a professora-pesquisadora Tainah Galdino, que coordena a habilitação junto com a também a professora-pesquisadora Flávia Coelho, ressalta que, embora o curso seja relativamente novo, mudanças já são necessárias. “O principal foco das mudanças é a alteração interna da grade de disciplinas. Sugerimos trocas para facilitar o processo de aprendizagem, por exemplo, uma determinada matéria alocada no primeiro ano, fará mais sentido no 2º ano”, afirmou.

Segundo Tainah, a Escola tem avançado em ações que valorizam as mulheres, pessoas negras e indígenas na ciência. Essas medidas, na visão da coordenadora, acontecem de maneira transversal durante as disciplinas, fazendo com que os estudantes se vejam e se sintam representados. “O desafio é a promoção não apenas da representatividade dos alunos no mundo das ciências, mas no acolhimento desses estudantes, principalmente os que estão chegando à escola, para que possam desenvolver seu potencial das mais variadas formas”, completa.

Importância da educação politécnica

Como parte da programação do seminário, a Escola Politécnica recebeu, no dia 3 de agosto, a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF-MST), Virgínia Fontes, que participou da Câmara Técnica de Ensino e Informação na EPSJV/Fiocruz e falou sobre a importância da educação politécnica como modelo de referência para pensar a educação pública no Brasil. Segundo ela, a educação politécnica e a EPSJV têm um repertório e uma prática histórica de avanço na educação da classe trabalhadora. “E é esse repertório e esse histórico de luta e de enfrentamento que precisa ser colocado em ação agora, como exemplo, como liderança na luta contra a devastação da educação correlacionada com o trabalho que significa essa contrarreforma do ensino médio”, ressaltou Virgínia, acrescentando que a contrarreforma do ensino médio, na visão dela, busca, ao contrário de tudo o que essa Escola prova ser possível fazer, segmentar a educação média do ensino superior. “Ela procura eliminar as conquistas populares no interior da educação pública, devastando a capacidade de gestão, tanto dos professores, quanto dos alunos, sobre a própria atividade docente, sobre a própria atividade pedagógica. Pretende produzir trabalhadores subalternos para um trabalho sem direitos, o contrário do que nós propomos como educação, que é um sujeito social emancipado”, concluiu.