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Estudantes da turma especial do Mestrado Profissional da EPSJV fazem atividade de imersão no território

Acompanhados dos docentes da Escola Politécnica, alunos visitaram a aldeia indígena Paiter-Suruí, em Cacoal (RO)
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 18/12/2023 11h51 - Atualizado em 18/12/2023 11h54

Os estudantes da turma especial de Cacoal (RO) do Mestrado Profissional em Educação Profissional em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) fizeram, no início de dezembro, uma visita à aldeia do povo indígena Paiter-Suruí, no estado de Rondônia. A atividade foi coordenada pelos professores-pesquisadores da Escola, Isabella Koster, José Victor Regadas, Letícia Batista e Ialê Falleiros, que também é coordenadora da Pós-graduação.

A ida ao território aconteceu depois de algumas discussões durante as aulas sobre o estado de Rondônia, sua ocupação pelos povos originários e os projetos de integração nacional levados adiante pelo Estado brasileiro desde o início da república. “Assistimos ao vídeo Oswaldo Cruz na Amazônia, dirigido pela neta do cientista e lançado em 2009, em que ela remonta às viagens realizadas pelo avô para saneamento e controle da febre amarela em cidades como Belém (PA) e Manaus (AM), bem como de acompanhamento da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cujos registros extraídos das cartas enviadas à esposa no início do século 20 revelam os custos à saúde da população deslocada das regiões por onde o ’progresso’ passava”, contou Ialê.

Segundo ela, o debate com a turma acendeu memórias sobre vivências próprias e de seus antepassados na região. “Propusemos que se organizassem em três grupos para apresentação de um levantamento sobre as relações entre os povos originários de Rondônia e as temáticas do Trabalho, da Educação e da Saúde”, contou. No dia seguinte, as aulas contaram com a presença do coordenador da Funai de Rondônia, Rubens Paiter Suruí, que fez um relato sobre a dinâmica de desenvolvimento local de seu grupo étnico, envolvendo a agroecologia e o etnoturismo. “A turma se interessou em conhecer pessoalmente uma das aldeias que oferece essa vivência, pois, embora esteja localizada a 40 minutos de Cacoal, a maior parte dos estudantes não a conhecia”, observou a coordenadora da Pós-graduação.

Sobre a experiência, a estudante Eldya Ramos falou: “Eu jamais teria saído da minha bolha e conhecido tudo isso senão fosse esse mestrado. Obrigada por tanto. Hoje, vendo um programa de televisão reconheci um lugar que há uma semana eu nem saberia de onde estão falando”. “Simplesmente maravilhosa e essencial a nossa imersão. Foi um encontro inesquecível. Aos professores, gratidão por nós envolverem com tanto conhecimento e carinho”, acrescentou a estudante Letícia Freitas.

Para a professora-pesquisadora Isabella, foi uma construção coletiva de conhecimentos, pautada em trocas e vivências. “Já tinha um afeto por vocês desde antes de formar a turma que só cresceu estando junta. Agradeço a todos vocês. Cada um do seu jeito fez tudo acontecer nessa semana”, comentou. “Essa semana foi muito importante para nós, estar com vocês e ver pelos olhos de vocês foi uma experiência linda”, completou a professora-pesquisadora Letícia Batista.

O processo

Em agosto de 2023, parte da turma e os professores-pesquisadores Alexandre Pessoa, Anakeila Stauffer, Edilene Pereira e Maurício Monken foram à aldeia Paiter-Suruí, com o objetivo de reconhecer a memória, a cultura e a organização comunitária local para entender o movimento de resistência dos povos indígenas diante dos processos de ocupação territorial, desmatamento e transformação dos ecossistemas locais. “Para iniciar a formação de trabalhadores da saúde em territórios, é fundamental compreender a sua geografia e história”, afirmou Maurício.

Na época, a professora-pesquisadora Anakeila ressaltou que a turma de Cacoal (RO) exige pensar o processo pedagógico em interlocução com a realidade de trabalho, encontrando o diálogo com o trabalho como princípio educativo. “Do ponto de vista dos discentes, há um reconhecimento de seu próprio território que, a partir de nossas mediações pedagógicas, instigam a estranhar, reolhar e reconstruir formas de compreender a sua realidade - saindo da aparência e buscando sua essência - em suas distintas dimensões, estando a saúde dentre elas”, disse Anakeila na ocasião.

Para Ialê, a visita à aldeia - onde vive a ativista reconhecida internacionalmente pela defesa dos territórios indígenas Txai Suruí -, foi a culminância de um processo. “Compreendemos ser de construção conjunta do conhecimento, aproximando teoria e prática, para transformação das percepções de todos, ampliação do olhar sobre a realidade e humanização das relações entre as pessoas pelo respeito à diversidade cultural”, concluiu.