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‘Fiocruz pra Você’: EPSJV realça a defesa de que ‘vidas nas favelas importam’

A luta pela paz e contra a violência no território esteve na centralidade das ações da Escola Politécnica na 24ª edição do 'Fiocruz pra Você', promovido pela Fundação desde 1994, motivada por dias tensos de violência na região
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 21/09/2017 14h13 - Atualizado em 01/07/2022 09h45
Foto: Maycon Gomes

Cidadania, Saúde e Paz deram o tom às atividades promovidas pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) na 24ª edição do ‘Fiocruz pra Você’. O evento, realizado em 16 de setembro, no campus principal da Fundação, reuniu cerca de seis mil pessoas em torno de atividades artísticas, culturais e de promoção à saúde, com destaque para o contexto de violência no território, a exemplo da primeira edição, realizada em 1994, depois de dias tensos de violência na região, em Manguinhos. Durante o evento, um ato realizado na frente do Castelo Mourisco reuniu representantes do poder público, de movimentos sociais e do terceiro setor, com foco na denúncia da violência e do retrocesso de direitos. “Esse é um ato de resistência ao desmonte na saúde, contra a violência e a flexibilização da CLT e da reforma trabalhista. Vivemos um massacre nas favelas por esse Estado genocida e racista. Resistir é nosso dever”, destacou Jorge Nadais, membro da Comissão de Agentes Comunitários de Saúde (Comacs-Manguinhos). Vítima da violência no território de Manguinhos, o Colégio Luiz Carlos da Vila, que passou recentemente duas semanas de portas fechadas por conta dos intensos tiroteios, foi realçado durante o ato. “Não dá mais para só reagir à falta de política pública. Precisamos agir pela vida”, sugeriu a professora da instituição, Raquel Viana. Assim como outros moradores locais, ela reivindicou ainda a reabertura da Biblioteca Parque de Manguinhos, fechada há nove meses.

“Não podemos admitir retrocesso de direitos em nenhum lugar desta cidade, nem deste país”, salientou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade. De acordo com ela, o ‘Fiocruz pra Você’ evidencia a luta pela paz e pela cidadania e, para que isso aconteça, é preciso dedicar forças àqueles que estão em situação de mais vulnerabilidade. Daniel de Souza, presidente da ONG Ação da Cidadania e filho de Betinho – homenageado do evento, cuja morte acaba de completar 20 anos -, apontou que um relatório preparado por entidades da sociedade civil entregue às Nações Unidas em julho mostra que o Brasil poderá voltar ao Mapa da Fome, do qual saiu em 2014. “O governo conseguiu trazer a fome de volta ao país. Queremos um movimento pela ética na política e por uma verdadeira cidadania”, demandou. Representando o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro, o professor-pesquisador da EPSJV Alexandre Pessoa destacou a importância do ‘Fiocruz pra Você’ na atual conjuntura de desmonte do SUS e das diversas formas de violência. “Temos a necessidade de fortalecer as resistências. A Fiocruz faz parte do SUS e temos que lutar”, reforçou.

Escola Politécnica em ação

“O ‘Fiocruz pra Você’ é uma experiência de integração, um momento em que tornamos esta instituição ainda mais pública, abrindo as portas para dialogar e interagir diretamente com a população”, definiu a diretora da EPSJV, Anakeila Stauffer. Para ela, a edição deste ano foi especial porque, junto com as atividades lúdicas, o evento foi um espaço de denúncia da situação de violência que tem se intensificado no Rio de Janeiro e, particularmente, no território de Manguinhos. “Foi muito bonita a participação da nossa Escola, principalmente o envolvimento dos nossos estudantes, que compareceram em grande quantidade, atuando nas mais diversas atividades e ajudando a mostrar um pouco do que a EPSJV faz”, afirmou a diretora, que acredita que essa integração contribui para a formação de todos e fortalece o papel social da Escola.

A ‘Feira Agroecológica Josué de Castro - Sabores e Saberes’, que acontece quinzenalmente no campus Fiocruz como parte de um projeto institucional, teve uma edição especial no ‘Fiocruz pra Você’. A atividade realizada pela EPSJV em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) aconteceu em associação à Oficina ‘Tecnologias Sociais e Cultura Camponesa’, que reuniu oficinas de bonecas Abayomi (do Iorubá, encontro precioso’), folhas de bananeira, compostagem, filtragem de água e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC).

Sob a mesma orientação, a Escola Politécnica ofereceu a oficina ‘Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida’, buscando ajudar na compreensão do nível de contaminação dos alimentos no Brasil, apresentando os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). “A cada cem laranjas, doze podem estar contaminadas por agrotóxicos. A melhor solução é lavá-las com cloro. Mas mesmo tirando a casca, a fruta continua contaminada. Por isso, opte por alimentos orgânicos”, orientava Bruna Pereira, aluna do 3º ano do Ensino Médio, da habilitação em Gerência em Saúde, durante o evento. Por sua vez, a oficina de ‘Veganismo’, que contou com ativistas da Sociedade Vegetariana Brasileira e voluntários de movimentos sociais, distribuiu material educativo e promoveu atividades culturais e lúdicas tematizando os direitos dos animais.

Em uma oficina cultural, alunos do Ensino Médio apresentaram a peça ‘Bailei na Curva’, de Júlio Conte, que tem como pano de fundo os fatos políticos a partir do golpe empresarial-militar de abril de 1964 até o movimento das Diretas Já, em 1984. “Já participei de outras duas edições do ‘Fiocruz pra Você’ e é muito bom usar o teatro como troca de ideias, onde a gente ensina e aprende com o público”, defendeu Pedro Victor dos Santos, aluno do 3º ano do Ensino Médio, da habilitação Análises Clínicas. Seguindo a linha cultural, os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EPSJV realizaram a oficina ‘Maculelê’, buscando desenvolver a expressão corporal por meio da dança folclórica brasileira. “A oficina promove a socialização de pessoas de diferentes raças e religiões. É muito importante reunir essas pessoas em um ambiente sem preconceito”, observou a estudante Amanda Fernanda da Costa.

A Escola expôs também uma Linha do Tempo com os principais aspectos históricos da saúde pública no Brasil e elementos de cada época. “Aprendo muito mais assim e é legal estar aqui para poder me comunicar e ajudar outras pessoas a entenderem sobre o assunto”, destacou Giovana Lemos, aluna do 1º ano do Ensino Médio, da habilitação Biotecnologia. A programação da Escola Politécnica no evento incluiu ainda as oficinas ‘Bolhas de sabão gigantes’, ‘Abraço grátis’ – por meio da qual voluntários da EPSJV percorreram o campus oferecendo abraços para o público –, e ‘Capoeira’, na qual foi realizada uma aula com os principais movimentos da capoeira de Angola e regional. “Além de ser divertido, é uma forma de fazer um exercício. A capoeira foi trazida por escravos africanos para o Brasil. Portanto, é uma forma de resistência e de resgatar a ancestralidade”, disse Mayara Duarte, aluna do 4º ano do Ensino Médio, da habilitação de Gerência em Saúde.