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Informação em Saúde na Atenção Básica

Escola Politécnica promove seminário sobre o tema para apresentar os resultados da pesquisa de avaliação da implantação da estratégia e-SUS AB no município de Piraí
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 09/12/2021 11h14 - Atualizado em 01/07/2022 09h40

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu nos dias 1º, 2 e 3 de dezembro, o 2º Seminário de Informação em Saúde na Atenção Básica. O objetivo do evento, realizado de forma remota, foi apresentar os resultados da pesquisa de avaliação da implantação da estratégia e-SUS AB no município de Piraí (RJ). Financiada pelo edital Novos Talentos do Programa Fiocruz de Fomento à Inovação (Inova Fiocruz), a pesquisa acompanhou e analisou os processos de implantação desse software, uma estratégia do Ministério da Saúde para aprimorar a gestão da informação na Atenção Básica. “É uma oportunidade para debatermos os usos das informações em saúde na Atenção Básica, compartilhando conhecimentos, experiências e vivências a respeito dessa temática”, ressaltou a professora-pesquisadora da EPSJV e coordenadora da pesquisa, Ana Reis, na mesa de abertura do evento.

Para Mônica Vieira, vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, é cada vez mais nítido o entendimento de que algumas pesquisas se impõem como estruturantes dos campos de saber da Escola Politécnica, desdobradas e aprofundadas em um processo permanente de produção e disseminação do conhecimento junto a sociedade. “É uma tradição desse grupo de pesquisadores do Laboratório de Informação e Registros em Saúde a proximidade com o serviço e com os desafios colocados no cotidiano do trabalho em saúde. E esse seminário segue esse processo de investigação, produção do conhecimento e partilha”, apontou.

Na visão de Giane Gioia, secretária municipal de Saúde de Piraí, a pesquisa é um marco para o município. Segundo ela, o e-SUS, que facilita e dá informações para a gestão, tem sido essencial na pandemia da Covid-19. “Sabíamos quantos munícipes tínhamos que vacinar e onde eles estavam. A organização do sistema e das pessoas que o operam foi de tanta importância que facilitou esse trabalho. O programa nos dá transparência, nos faz acompanhar a realidade da nossa gestão e dos programas que são desenvolvidos”, contou.

Uso do e-SUS AB na gestão

Mediada pela professora-pesquisadora da EPSJV, Fernanda Martins, a mesa “O uso do e-SUS AB para a gestão do processo de trabalho e gestão do cuidado em saúde: o caso de Piraí/RJ” contou com a também professora-pesquisadora da EPSJV, Bianca Leandro, e com o professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Hêider Pinto.

Depois de uma breve apresentação sobre os aspectos gerais do estudo, feita por Ana Reis, Bianca ressaltou que, na pesquisa, o foco debruçou-se sobre a gestão do processo de trabalho em saúde na AB associada ao uso da informação em saúde, em especial, ao uso do e-SUS APS enquanto um novo vetor tecnológico que permitiria uma maior otimização dos processos de trabalho. “Pretende-se compreender e identificar os usos possíveis, avanços, desafios e barreiras para a gestão do trabalho”, disse.

Em alguns apontamentos, Bianca destacou que o uso da informação para a gestão do processo de trabalho contribui para a valorização do trabalhador, da sua prática de trabalho e para a reorganização e problematização do trabalho em saúde. “Os sistemas de informação em saúde são essenciais para a gestão do trabalho em saúde, trazendo contribuição estratégica seja para o gerenciamento, monitoramento, avaliação, ou para própria comunicação entre instâncias e profissionais”, afirmou, acrescentando que o uso da informação também implica na apropriação de conhecimentos e saberes significativos no cotidiano do trabalho.

Sobre os resultados, Bianca contou que a pesquisa trabalhou com formulários eletrônicos, para levantar as percepções dos trabalhadores, e rodas de conversa, para qualificar essas percepções. “Na maior parte da percepção dos trabalhadores tem-se uma avaliação positiva sobre o e-SUS, seja na redução do retrabalho, na melhoria do acompanhamento ambulatorial, na organização da agenda ou no registro do prontuário”, apontou. E contrapôs: “Entretendo, os dois aspectos que categorizamos como ’possível de melhorar’ foram a discussão sobre o cadastramento dos usuários nas áreas, impactando o modo como os trabalhadores organizam a sua rotina, e o uso da informação do e-SUS para o planejamento das ações”.

Sobre desafios, a professora-pesquisadora citou a dificuldade de localizar os dados dentro do prontuário, por serem dados do indivíduo e não pela família, e a existência de relatórios gerenciais incompletos pela alimentação inadequada, dentre outros. Isso, segundo ela, vem da dificuldade de saber onde digitar a informação para que saia no relatório gerencial. “Apesar dos desafios, em todas as dimensões analisadas, nota-se uma avaliação que caminha no sentido da melhoria ao invés da manutenção ou piora do processo de trabalho a partir do uso do e-SUS AB em Piraí”, relatou.

Em seguida, Ana falou sobre como o e-SUS está contribuindo para a gestão do cuidado em saúde em Piraí. Segundo ela, alguns aspetos foram analisados, dentre eles, a centralidade no paciente e o atendimento humanizado. “A partir da análise dos questionários respondidos pelos profissionais das unidades básicas de saúde, em relação a centralidade no paciente, houve um reconhecimento tanto por parte das equipes quanto dos coordenadores de que o Registro de Saúde Orientado por Problemas (Soap) melhorou ou facilitou as ações de cuidado e o conhecimento de problemas de saúde”, disse. E continuou: “Entretanto, há uma crítica sobre a sua utilização, uma vez que há dificuldade no manuseio, o que afeta a qualidade dos dados”.

Já em relação ao atendimento humanizado, Ana destacou que, para 65% dos profissionais de saúde, houve melhoria na interação com o usuário no momento da consulta ou da visita domiciliar. Mas, 28% consideraram que não mudou nada e 6% avaliam que piorou. “Para os coordenadores, o Soap é uma funcionalidade importante para o registro qualificado, uma escuta ativa, baseada na queixa do próprio usuário. Assim, promovendo o acolhimento e um atendimento mais humanizado”, indicou.

Em seus apontamentos finais, Ana apresentou o que a pesquisa destacou como potencialidades do e-SUS e do prontuário eletrônico do cidadão (PEC) na gestão do cuidado: “O uso promoveu a valorização das informações registrada nos prontuários, aprimorou as ações de acolhimento, permitindo uma escuta qualificada e favoreceu o acompanhamento multiprofissional da assistência prestada e o cuidado integral”.

Para Hêider, tanto no setor público quanto no privado, existem a tendência de alguns elementos, como a integração de dados, a análise e inteligência e o engajamento de profissionais. “A ideia não é ter um prontuário único. Você precisa de prontuários que conversem e ofereçam informação do usuário onde quer que você esteja. A gente precisa qualificar os relatórios nos diversos sistemas de informação”, apontou.

Elogiando os resultados da pesquisa, Hêider ressaltou a necessidade de o e-SUS ser um sistema para toda a equipe e não somente para médicos e enfermeiros. “Se não a gente vicia o processo de decisão compartilhada. O e-SUS foi orientado para ser um prontuário orientado por problema, para permitir a interação dos profissionais dentro do serviço”, explicou.

Segurança e Qualidade da Informação em Saúde

No segundo dia, a mesa “Segurança e Qualidade da Informação em Saúde no e-SUS AB: o caso de Piraí/RJ” contou com o professor-pesquisador da EPSJV, José Mauro Pinto, e com a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), Angélica Baptista.

Em sua apresentação, José Mauro afirmou que, no mundo digital, para assegurar a qualidade dos dados é preciso compreender que as informações produzidas e gerenciadas pelo e-SUS AB são arquivísticas. “Portanto, para que elas tenham qualidade, o sistema deve ter em sua estrutura lógica requisitos que possibilitem manter os princípios e características dos documentos e informações”, ponderou.

Nesse contexto, o professor-pesquisador apresentou alguns resultados da pesquisa sobre a qualidade e segurança das informações dos usuários. Ele apontou que 3% dos participantes da pesquisa classificaram como péssima a completude do preenchimento dos dados dos usuários no e-SUS AB, enquanto 19% consideraram como regular, 66% como boa e 13% como excelente. Já sobre a perda de dados dos usuários no sistema, 50% dos profissionais apontaram que, às vezes, ocorrem perdas.

Para Angélica, atualmente vive-se um cenário diferente do que foi a digitalização há uma década. “Temos um cenário tecnológico que traz dilemas éticos diferentes”, contrapôs, exemplificando: “A faixa de 5G foi leiloada pela Anatel e o acesso ao 5G pela saúde vai ampliar as possibilidades de internet e seu uso em diversas áreas do Brasil. Precisamos avaliar como vamos usar isso”.

Na visão de Angélica, o e-SUS AB é um legado para o Brasil, é um software que foi pensado em vários cenários, desde locais em que há internet estável e banda-larga até lugares que não tem internet. “É uma estratégia de informatização das unidades básicas, mas ele, provavelmente, vai se ligar a sistemas com aprendizagem de máquina e inteligência artificial. Se esses sistemas que aprendem sozinhos reproduzirem falhas de segurança, quem é o culpado? Como esses sistemas serão auditados?”, questionou.

O seminário foi finalizado com uma oficina pedagógica, com o objetivo de pensar processos formativos sobre a informação em saúde na Atenção Básica.

Assista na íntegra:

1º Dia 

2º Dia