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Juventude e Iniciação Científica

Programa de Vocação Científica da Fiocruz comemora 30 anos com mais de 1.500 jovens participantes
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 03/11/2016 12h35 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Para comemorar os 30 anos do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu o IV Seminário Juventude e Iniciação Científica, de 25 a 27 de outubro. Na abertura do evento, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou a importância do programa para a formação de novos pesquisadores e também de cidadãos mais conscientes. “O Provoc constrói novas gerações de pesquisadores, mas, mesmo aqueles que não seguem na área, levam para a vida uma formação crítica e ampla”, ressaltou Gadelha.

Na conferência de abertura do seminário, Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília (UNB), falou sobre a “Contribuição da iniciação científica no ensino médio para o desenvolvimento da ciência” e destacou que a ciência é o melhor caminho para se entender o mundo. “O conhecimento científico é o capital mais importante do mundo civilizado. O desenvolvimento científico significa qualidade de vida. Infelizmente, estamos vivendo uma situação de retrocesso na Ciência e Tecnologia no Brasil, assim como em outras áreas que não recebem investimentos”, disse o professor.

Para Isaac, a educação científica é um pré-requisito para a democracia e o desenvolvimento sustentável, além de desenvolver habilidades, estimular a curiosidade e o processo de construção de conhecimento dos jovens. “Mas o ensino de Ciências no Brasil é precário e desinteressante para os estudantes. Um dos motivos é a formação deficiente dos professores, que não são valorizados e não recebem formação continuada”, observou ele.

Homenagem

Após a conferência de abertura, a equipe do Provoc fez uma homenagem ao idealizador do Provoc, Luiz Fernando Rocha Ferreira da Silva, pesquisador emérito da Fiocruz. Alunos e egressos do Provoc leram trechos de textos de Luiz Fernando sobre a criação do programa e, em seguida, entregaram a ele um exemplar do livro “Olhares, Escritos e Memórias: os 30 anos do Provoc”, publicação comemorativa do aniversário do programa.

Luiz Fernando agradeceu a homenagem e fez questão de dividi-la como Delir Corrêa Gomes Maués da Serra Freire, que também estava presente no evento e fez parte da coordenação do Provoc nos primeiros anos do programa. “A ideia foi minha, mas Delir foi quem sustentou e trabalhou, levando as crianças pela mão para os pesquisadores da Fiocruz”, contou Luiz Fernando.

Livro

Ainda no primeiro dia do evento, aconteceu o lançamento do livro “Olhares, Escritos e Memórias: os 30 anos do Provoc”, organizado por Cristina Barros, Cristiane Braga, Ana Tereza Filipecki e Telma de Mello Frutuoso. A publicação conta a história das três décadas do Provoc e traz 114 depoimentos de alunos, egressos e orientadores que fizeram ou fazem parte do programa.

Após o lançamento, foi feita uma sessão de agradecimentos a trabalhadores que construíram a trajetória do Provoc, incluindo pesquisadores, coordenadores do programa, professores de escolas conveniadas e trabalhadores da EPSJV, que é responsável pela coordenação do Provoc desde a sua criação.

Egressos

Em uma mesa marcada pela emoção, alunos egressos e pesquisadores contaram um pouco de sua experiência no Provoc no painel “Vivências em laboratórios e processos de orientação da iniciação científica no Ensino Médio”. O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marcelo Pelajo, que fez parte da primeira turma do Provoc foi um dos alunos que Delir levou pelas mãos até o pesquisador Henrique Lenzi, do IOC, e hoje é orientador do programa. “O aluno de orientação é como uma célula-tronco: pode ser qualquer coisa, só precisa do estímulo correto. O Provoc dá a oportunidade de frequentar um ambiente científico para se desenvolver profissionalmente e como pessoa”, disse Marcelo, que foi orientador de Mariana Madeira, da turma de 2003. Mariana, que hoje é médica residente, contou que o trabalho desenvolvido no Provoc a influenciou na escolha de sua especialidade, a Hematologia, e deu a ela uma experiência que seus colegas de faculdade não tinham, pois nunca tinham vivenciado um ambiente de pesquisa.

Assim como Marcelo, Gabriela Costa Chaves, que hoje é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), também viveu os dois lados do Provoc – aluna, na turma de 1985, e orientadora atualmente. “Com o Provoc, saí dos livros e via a Biologia na prática, aprendi a pensar além da sala de aula. Quero contribuir com o Provoc durante todo o tempo que estiver nesta instituição”, disse Gabriela, que é orientadora de Milena Teodoro da Silva, moradora da Vila do João, no entorno do campus da Fiocruz, no Rio de Janeiro. “Desde criança, via o castelo da Fiocruz e queria estar aqui. O Provoc é uma oportunidade de aprender mais que a iniciação científica, também forma a gente como indivíduo, como um ser pensante”, contou Milena.

Ana Beatriz Borsoi, pesquisadora do IOC, também viveu os dois lados do Provoc. Entrou no programa como aluna em 2003, orientadora pelo pesquisador Serra Freire, do IOC, no Laboratório de Taxinomia, onde ela trabalha até hoje. Lucas Rodrigues foi o primeiro orientando de Ana Beatriz no Provoc e hoje cursa faculdade de Biologia. “Entrei no Provoc um adolescente cheio de dúvidas e saí um homem, sabendo o que queria fazer”, disse Lucas.

Para encerrar o primeiro dia de comemorações do aniversário do Provoc, aconteceu uma apresentação do Coral Fiocruz, formado por trabalhadores da instituição.

Educação Científica

No segundo dia do seminário, a mesa-redonda “Avanços e limites da educação científica escolar e da educação e divulgação científica não escolares” trouxe experiências de diversos estados na iniciação científica.

Luciana Conrado Martins contou a experiência de formação de jovens divulgadores da Ciência, por meio de um projeto realizado pelo Instituto Butantan e a Faculdade da Educação da Universidade de São Paulo (USP). “Os jovens se envolvem na produção de materiais de divulgação científica e nós conseguimos aproximá-los da cultura científica e fazê-los pensar de forma crítica”, disse ela, acrescentando que, no projeto, os jovens conhecem os processos da ciência, debatem a relação entre ciência e sociedade, divulgam a ciência nos meios de comunicação e participam de eventos científicos.

“É um avanço o crescimento dos programas de incentivo à educação científica e a popularização da Ciência, mas, no Brasil, a educação científica ainda é obsoleta e não estimula os talentos”, disse Gisele Brandão de Oliveira, professora do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que coordenou por 15 anos o Programa de Vocação Científica da UFMG, que foi criado em 1998.

Francisco Caruso, pesquisador do CBPF e professor associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), coordena o Provoc no CBPF, uma das instituições parceiras do programa, que foi descentralizado a partir de 1996. Para estimular o interesse dos jovens pela Física, Francisco criou um projeto de ensino das Ciências por meio de quadrinhos, que hoje também engloba outras áreas de conhecimento. “A Física é uma ciência experimental, então, precisa experimentar o fenômeno, mas as escolas não tem estrutura e matematizam a Física. Nos quadrinhos, a Física foge da matematização”, explicou o professor.

Provoc nas escolas

O segundo dia do evento também teve um painel sobre “Impactos e desafios do Provoc nas escolas”, no qual representantes de instituições educacionais parceiras do programa contaram suas experiências com o Provoc. “É fantástico para os jovens o contato com os pesquisadores e a ampliação dos conhecimentos. Instituições como a Fiocruz precisam estar juntas no desenvolvimento de territórios como a Maré”, disse Edson Diniz, professor da Redes de Desenvolvimento da Maré, instituição que funciona na comunidade da Maré, no entorno do campus da Fiocruz no Rio de Janeiro. O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) também funciona na Maré e é parceiro do programa. “O Provoc é motivador para a Maré. Os alunos que saem do programa saem com outra perspectiva, outro olhar, por terem saído da Maré. Eu falo para os meus alunos que eles podem chegar a qualquer lugar”, destacou o professor João Batista Henrique, coordenador do CEASM.

A coordenadora do Provoc no Colégio Bennett, Denise Mattatia Grassiano, lembrou que o Provoc ajuda a despertar as vocações científicas, mas também mostra quando essa não é a área de interesse do aluno. “O aluno permanece na carreira científica ou percebe que não é isso que ele quer”, observou Denise. Juliana Rocha Rodrigues, do CAp-Uerj, destacou que o Provoc forma “pesquisadores de vida”. “Pesquisador é aquele que tem interesse na realidade e o Provoc desenvolve o olhar crítico e a responsabilidade social, além de despertar as vocações científicas”, disse ela.

Também participaram desse painel, representantes do Colégio de Aplicação da UFRJ, Colégio Pedro II, Colégio São Vicente de Paulo e da Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático, Integrado e Sustentável (Rede CCAP).

Iniciação Científica

O último dia do seminário foi iniciado com a mesa-redonda “Iniciação científica no ensino médio frente ao modo de produção e práticas científicas contemporâneas”. A professora associada da Universidade Federal do Norte Fluminense (Uenf), Verusca Moss Simões dos Reis, ressaltou que precisamos de uma sociedade com formação ampla e científica para opinar sobre os avanços tecnológicos. “O desafio é ter pessoas que não sejam só voltadas para os problemas especializados de sua área”, disse ela.

Valber Frutuoso, diretor de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC e ex-coordenador do Provoc, lembrou que, desde sempre, a humanidade busca respostas para suas questões do dia-a-dia, visando ampliar seu bem-estar. “A ciência é a aquisição do conhecimento através da pesquisa e do método científico e a tecnologia é a aplicação desse conhecimento para solucionar problemas da sociedade”, ressaltou Valber, acrescentando que a formação técnico-científica deve buscar estimular o espírito crítico, a honestidade intelectual, o planejamento, a disciplina, a humildade intelectual e a postura ética.

O professor-pesquisador da EPSJV, Murilo Mariano Villaça, observou que a iniciação científica é fundamental na formação do cidadão. “Quase todos os aspectos da nossa vida tem alguma influência da Ciência. Para nascer, vestir, usar óculos, alguém pensou nisso. A ciência e a tecnologia nos ajudam e também nos controlam”, disse Murilo.

Experiências

Para encerrar o evento foi realizado o painel “Experiências institucionais de iniciação científica na Educação Básica”. O coordenador geral de Cooperação Nacional do CNPq, Roberto Muniz Barretto de Carvalho, destacou que a iniciação científica dos jovens é fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico. “Um sistema de ciência e tecnologia não se constrói do dia para a noite. As escolas deveriam fomentar a iniciação científica, mas não nem todas fazem isso. Precisamos mostrar aos jovens que fazer ciência é interessante e é fundamental que tenhamos programas como o Provoc, não só para criar cientistas, mas também para melhorar a qualidade de vida da população”, afirmou Roberto.

Cristina Araripe, pesquisadora da COC e ex-coordenadora do Provoc, falou sobre a ampliação e descentralização do programa a partir de 1996. “Pegamos o modelo bem sucedido no campus Manguinhos e levamos para um conjunto de parceiros. Esse movimento nos levou a ampliar nossa visão sobre o programa”, disse Cristina.

Graça Regina Reis, vice-diretora do CAp-UFRJ, destacou que o colégio incentiva a participação de alunos nas atividades de pesquisa para, entre outras coias, contribuir para sua escolha profissional. O coordenador de Iniciação Científica Jr. do CAp-Uerj, Atílio José Grioli, lembrou que o CAp-Uerj foi o primeiro parceiro do Provoc, com os 14 alunos que formavam a primeira turma do programa, em 1986.

Flávia Coelho Ribeiro, professora-pesquisadora e coordenadora do Projeto Trabalho, Ciência e Cultura (PTCC) da EPSJV, falou sobre a experiência de iniciação científica que integra o currículo dos Cursos Técnicos de Nível Médio em Saúde da Escola Politécnica. “O PTCC tem o objetivo de integrar a formação técnica com a geral. Na Escola Politécnica, a pesquisa é um princípio educativo e fomentamos a produção científica dos alunos”, destacou Flávia, acrescentando que o processo de produção das monografias é enriquecedor para alunos e orientadores.

Comentários

Caro senhores, boa noite! Gostaria de saber como devo proceder para receber a Declaração de Participação do IV Seminário Juventude e Iniciação Científica realizado entre os dias 25 a 27 de outubro de 2016. No final do evento fui orientada que poderia acessar ao site que estaria disponível, mas não conseguir identificar nada que possa levar a este caminho. Desde já agradeço atenção e pela oportunidade em ter participado da discussão que foi enriquecedor para minha formação profissional. Grata, Maria Mesquita da Fonseca