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Rede de frio

Sistema que envolve a produção, armazenamento e distribuição de vacinas é fundamental para que o imunobiológico se mantenha eficaz até o momento de ser aplicado
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 05/04/2017 07h12 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

A produção, armazenamento e distribuição de vacinas envolve toda uma logística para que os imunobiológicos cheguem aos usuários em perfeitas condições de uso e com sua eficácia garantida. Esse sistema, chamado de Rede de Frio, envolve todo o conjunto de procedimentos relacionados à vacina. “As vacinas são insumos muito sensíveis a variações de temperatura, pois a oscilação de temperatura interfere na qualidade dos imunobiológicos, por isso, é tão importante que os profissionais da Rede de Frio sejam capacitados para esse trabalho para que as vacinas mantenham suas características e garantam a proteção”, explica Marileide do Nascimento Silva, professora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).

Cada vacina tem uma faixa de temperatura ideal para armazenamento na central nacional, conforme suas características e composição química. “Algumas são mais sensíveis, de acordo com seus componentes. O que determina a temperatura é o antígeno, que é a fração do vírus que é usado para fazer a vacina e suscitar no indivíduo a resposta imunológica à doença. As vacinas mais sensíveis são as virais, como febre amarela, sarampo, caxumba e rubéola, que precisam ser armazenadas em temperatura mais baixas que as não virais”, diz Marileide, acrescentando que as vacinas são também sensíveis à luz e os equipamentos nos quais os imunobiológicos são armazenados não devem receber luz direta. Nas unidades básicas de saúde, todas as vacinas devem ser mantidas em temperatura de 2 a 8°C.

A manipulação, armazenamento e transporte inadequado das vacinas pode comprometer a eficácia delas. “Quando falha alguma parte desse sistema, compromete a vacina. Esse cuidado extremo é necessário porque a perda não é só financeira, é também de funcionalidade, porque a vacina que não for corretamente acondicionada poderá perder sua potência e não garantir proteção”, explica a professora.

O Programa Nacional de Imunizações é a instância gestora responsável pelas vacinas e procedimentos técnicos em todo o país. Segundo Marileide, no Brasil, que tem o maior programa de vacinação do mundo, a Rede de Frio é composta por até cinco instâncias. A primeira, de nível nacional, é quando a vacina sai do laboratório produtor e vai para a Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), no Rio de Janeiro, onde são armazenadas todas as vacinas produzidas no Brasil, além de kits diagnósticos e reagentes.

Da Cenadi, as vacinas são encaminhadas para as Centrais Estaduais de Vacinas, sempre transportadas observando-se as condições ideias de temperatura. Em alguns estados, existem ainda as Centrais Regionais de Vacinas, que são a terceira instância da Rede de Frio. Em outros, as vacinas seguem direto das centrais estaduais para as centrais municipais, de onde são encaminhadas para a última instância da Rede de Frio, que são os locais de vacinação (postos e centros de saúde, hospitais, clínicas). Como inclui várias instâncias nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), a responsabilidade pela administração da Rede de Frio é compartilhada.
 
Segundo Marileide, a maior parte dos profissionais das centrais de armazenamento é treinada em serviço, tem um perfil diversificado e nem sempre tem conhecimento adequado para exercer suas funções. Com o objetivo de melhorar essa qualificação, em 2010, a EPSJV ofereceu pela primeira vez a Especialização Técnica de Nível Médio em Rede de Frio, com 284 horas-aula. A primeira turma, concluída em 2011, contou com 35 alunos, incluindo trabalhadores da Cenadi, coordenação estadual e municipal de imunizações do Rio de Janeiro. O curso teve ainda mais duas turmas, sempre formadas por profissionais que já trabalhavam na Rede de Frio. Em 2013, o curso foi interrompido para a produção de um material didático específico para a formação desses trabalhadores. “Esse curso foi pioneiro na América Latina. E na avaliação das primeiras turmas, sentimos a necessidade de um material didático mais específico para o curso que possibilitasse uma formação crítica e ampliada, na qual outros conceitos fossem apresentados, em uma lógica diferente dos manuais que existiam até então. Queríamos um material com caráter mais formativo”, diz Marileide, que coordenava o curso e coordena a produção desse material didático, que está em fase de finalização e deve ser lançado até o fim de 2017. Com isso, o curso, que também está sendo reformulado, deve ser retomado a partir de 2018, na EPSJV.

O material didático está sendo produzido em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e a vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da saúde da Fiocruz, além de profissionais de várias instituições como a Cenadi, Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, secretarias municipais de Saúde, Universidade Federal Fluminense (UFF), além de outras instituições e universidades.