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#8M: poder da mulher em espaços institucionais é tema de debate

Necessidade de comprovar a própria capacidade ainda é frequente para mulheres em posição de liderança
Erika Farias - EPSJV/Fiocruz - EPSJV/Fiocruz | 11/03/2024 16h13 - Atualizado em 14/03/2024 16h11

“O oito de março não é um dia romântico. É um dia político. A abolição da escravatura foi proclamada em 1888. Em 1932, foi promulgada a lei que permitiu o voto feminino. Em 2010, tivemos a primeira mulher presidenta do Brasil. Em 2017, a primeira mulher presidenta da Fiocruz. Em 2023, a primeira mulher ministra da Saúde no Brasil. De romântico, isso não tem nada”. Esses foram os marcos, proferidos pela coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz), Hilda Gomes, que deram o tom da roda de conversa “Fiocruz pela equidade de gênero: mulheres nos espaços de poder institucional”. Realizada no dia 8 de março, em celebração ao Dia Internacional da Mulher, o evento aconteceu no Auditório do Museu da Vida, no Campus Maré-Manguinhos, do Rio de Janeiro, e contou com uma plateia repleta de estudantes da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz); do presidente da Fiocruz, Mario Moreira; da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristiani Vieira Machado, entre diversos outros convidados.

A mesa de abertura recebeu a vice-presidente do Sindicato dos Servidores da Fiocruz (Asfoc), Lúcia Helena da Silva; a chefe de Gabinete da Presidência da Fundação, Zélia Profeta; e a coordenadora-geral de Gestão de Pessoas (Cogepe) da Fiocruz, Andréa da Luz. “Nós mulheres, somos a maioria na sociedade e também na Fiocruz. Aqui, tanto como servidoras, quanto na terceirização, somos a maioria na força de trabalho. Somos 56% dos servidores e ocupamos 53% dos cargos de liderança. Isso é uma vitória”, afirmou a coordenadora-geral da Cogepe, complementando que ainda há segmentos em que é preciso avançar mais, como nas unidades técnico-científicas, nas quais essa mesma representatividade ainda não foi garantida. “Temos somente cinco diretoras nessas unidades”, completou Andréa.

O presidente da Fiocruz, que também esteve presente assistindo ao encontro, reafirmou o compromisso da instituição com a causa das mulheres, entendendo o peso que a voz da Fundação tem na arena política. Mario Moreira também falou sobre a necessidade de uma relação equilibrada entre as esferas pública e institucional. “Precisamos estabelecer uma relação de coerência entre aquilo que pregamos para a sociedade e aquilo que defendemos internamente”, disse.

Quem tem poder?

Diretora do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz Bahia), Marilda Gonçalves, revelou que quando assumiu a direção de sua unidade, o instituto nunca havia tido uma diretora mulher. “Eram sempre homens, brancos, médicos. Então, espero que tenha sido um marco que possibilite diversas mulheres a estarem neste ambiente”, afirmou. Marilda contou ainda sobre algo que, apesar de não ser comumente dito, é sempre compreendido por mulheres: “Quando estamos nesses espaços, precisamos sempre comprovar nossa capacidade. E isso está sempre subentendido”, revelou.

Compreendendo a interseccionalidade como fundamental a uma real representação da sociedade, o evento contou com participação da bolsista do Programa Fiocruz Saudável, Bruna Catalan, uma mulher cega, que falou sobre a experiência de buscar seu espaço no mercado de trabalho, enfrentando os desafios de ser uma pessoa com deficiência. Superprotegida pela família por muitos anos, Bruna revelou que não conhecia seu potencial e suas possibilidades, até chegar na Fundação. “Agora estou tendo a oportunidade de trazer melhorias para outras pessoas com deficiência na Fiocruz. Sei que temos muita coisa a melhorar, mas sei também que aquilo ali é um pouquinho do meu trabalho, como pessoa com deficiência, como pessoa que vive aquilo diariamente”, revelou, complementando que a oportunidade é algo que a deixa feliz e emocionada.

Já a diretora da EPSJV/Fiocruz, Anamaria Corbo, levantou a questão de a Fiocruz viabilizar espaços de participação social, especialmente após a gestão do sanitarista Sergio Arouca (1985-1989). “No Politécnico, existe o trabalho de um coletivo. Atrás de nós, há outras mulheres. Temos ainda as representações dos alunos: coordenação de turma, Grêmio”, contou a diretora. Anamaria também reafirmou a máxima de que líderes são formados no processo. “O espaço público nunca foi dado como sendo da mulher. Fomos educadas para o espaço privado. Por isso, se um homem fala uma besteira, todas as pessoas riem. Agora, se uma mulher fala, comentam: ‘fraquinha ela, né?’”, argumenta.

Anamaria também retomou a discussão trazida pela aula inaugural da Escola, realizada em 5 de março, que abordou o trabalho do cuidado realizado por mulheres. “30% das crianças até três anos estão na creche, o que significa que 70% não estão. E quem está cuidando dessas crianças? São mães, avós...”, afirmou. A diretora complementou que esse cuidado, realizado na maior parte por mulheres, permite que homens alcancem postos de trabalho mais privilegiados. “A qualificação dos homens é maior porque eles têm mais tempo e disposição para estudar”, reforçou. (Assista à aula inaugural aqui)

Finalizando o debate, a técnica de Inovações farmacêuticas, Jennifer Kelly, uma mulher trans, revelou os desafios de ser uma pioneira na questão de mudança de gênero dentro de seu ambiente de trabalho. “Lutei quatro anos para ter direito a usar as dependências femininas da minha unidade. Senti que tentavam me impedir de ser quem eu sou”, revelou. Apesar das dificuldades, sua luta abriu caminhos para que outras pessoas trans pudessem executar seus trabalhos com mais tranquilidade no espaço corporativo. “Toda pessoa pioneira tem uma luta, por ser a primeira. Ela paga um preço por isso. Mas quando vemos que esse esforço abriu caminhos para outras pessoas, percebemos que ele valeu a pena”, concluiu.

Assista aqui à transmissão do evento.