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Conferência remonta a história do movimento operário e a tradição populista brasileira

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Se quando ouve falar em populismo, você pensa imediatamente numa liderança carismática que manipula as massas, cuidado: você pode estar simplificando uma boa parte da História do Brasil e do mundo. Quem, por outro lado, acha que populistas são todas as ações que atendem aos interesses populares, pode estar se vinculando a um pensamento conservador de direita. Quem avisa é Armando Boito, professor-titular da Unicamp e pós-doutor em Sociologia, que apresentou a conferência 'Trabalhadores e Política no Brasil: declínio e ressurgimento da tradição populista'. O evento, realizado hoje no Auditório Joaquim Alberto Cardoso de Melo, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, é parte dos projetos integrados de pesquisa desenvolvidos por meio de uma parceria entre a EPSJV, a UFF e a UERJ. A mesa foi coordenada por Gaudêncio Frigotto.

O conceito de populismo utilizado por Boito é extraído do livro 'O 18 Brumário de Luis Bonaparte', de Karl Marx, que relata como os camponeses apoiaram Bonaparte na expectativa de que ele reinstaurasse a ordem pelo golpe, depois das insurreições de maio de 1848. Segundo o palestrante, essa pode ser considerada, por isso, uma ação conservadora.

Já os governos de Getúlio Vargas - classificado como tipicamente populista - e o do atual Presidente Luis Inácio Lula da Silva - que teria ações populistas - não remetem, segundo Boito, a uma atitude conservadora da população que os elegeu, uma vez que, em ambos os casos, os trabalhadores votaram acreditando que teriam melhorias. Mas por que populismo, então? 'O populismo não exclui a luta reivindicatória, mas exclui a luta pelo poder de Estado, e essas são coisas muito diferentes', explica. De acordo com o conferencista, no populismo, os trabalhadores esperam que o Estado decida e aja e não que eles tenham que se organizar para defender ou atacar o Estado. Por isso, exemplificou, praticamente não houve resistência popular organizada ao golpe militar de 1964.

Foi exatamente nesse período que começou, segundo Boito, o desgaste da ideologia populista. Um dos motivos foi o aumento da classe operária em função do crescimento da indústria brasileira durante o regime militar. Nasce, daí, um outro tipo de movimento, principalmente, a partir do ABC paulista. 'Esse novo sindicalismo era muito diferente do populismo porque acreditava na força da organização dos trabalhadores', explicou. Ainda assim, não eram, na opinião do professor, movimentos com cunho socialista. 'Tinham uma visão socialdemocrata de esquerda, que buscava a construção de um Estado de Bem-estar Social', disse.

Mas os anos 90 levaram a um novo fortalecimento do populismo no Brasil, muito influenciado pelo crescimento do desemprego. Tudo começa, segundo ele, no governo Collor que, no discurso, adotou os descamisados e se apresentou como caçador de marajás, e, nas ações, desconcentrou a indústria dos grandes centros urbanos, onde o sindicalismo era mais forte. Daí em diante, passando pelos dois governos Fernando Henrique Cardoso e chegando ao governo Lula, a burguesia brasileira, que antes vivia em crise, se unificou em torno de um projeto neoliberal.

Mas como populismo e neoliberalismo convivem? Para Boito, esse é um aparente paradoxo. 'O neoliberalismo se apresenta como culto ao mercado e o populismo é o culto ao Estado. Mas, em relação ao neoliberalismo, essa é apenas uma declaração de princípios porque, na verdade, não é o Estado que ele vê como demônio, mas sim os direitos sociais', explicou.

A conferência, que foi assistida por mais de 100 pessoas, provocou ainda debate sobre questões muito atuais, como os programas assistencialistas do governo Lula, a crise do Partido dos Trabalhadores e os governos de esquerda da América Latin