Serviços 
O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras

Educação como resposta aos desafios globais

Diálogos Nobel Brasil 2024, organizado pela Academia Brasileira de Ciências, traz os laureados de Física em 2012, Serge Haroche; Medicina em 2014, May-Britt Moser; e Química em 2021, David MacMillan
Paulo Schueler - EPSJV/Fiocruz | 19/04/2024 14h42 - Atualizado em 19/04/2024 15h11

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) recebeu três laureados do prêmio Nobel nesta semana, inicialmente no Rio de Janeiro e também em São Paulo, para o ‘Diálogo Nobel Brasil 2024’, organizado em parceria com o Nobel Prize Outreach. No dia 15 de abril, o Nobel de Física em 2012, Serge Haroche; a de Medicina em 2014, May-Britt Moser; e o de Química em 2021, David MacMillan conversaram com estudantes e pesquisadores na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Na abertura do evento no Rio de Janeiro, a reitora da UERJ, Gulnar Azevedo, ressaltou que como produtora de conhecimento e inovação, é de responsabilidade da universidade gerar um mundo mais sustentável, e que “a ciência vai, inevitavelmente, mudar nosso futuro”. Defendendo a necessidade de a academia se abrir às parcelas menos favorecidas da população, Gulnar destacou a necessidade de que “surjam novos cientistas dessas parcelas da sociedade”.

Em seguida, a presidente da ABC, Helena Nader, comemorou a primeira edição presencial do Diálogo Nobel Brasil - as duas anteriores, ocorridas durante a pandemia, transcorreram de forma online. Helena posicionou o evento dentro de um escopo mais abrangente que ocorre na pauta científica brasileira. “Este diálogo ocorre durante a presidência brasileira no G20, no qual o Brasil se posiciona pelo lema ‘Construir um Mundo Justo e um Planeta Sustentável’, e também faz parte dos eventos preparatórios para a 5º Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, lembrou.

Serge Haroche fez a palestra de abertura  com o tema “O desafio que a ciência enfrenta em nosso mundo perigoso”. Haroche é um físico de nacionalidade francesa nascido em Casablanca, no Marrocos. Professor do Collège de France desde 2001, foi laureado com o Prêmio Nobel da Física em 2012 por suas pesquisas com métodos experimentais inovadores que permitem a medição e a manipulação de sistemas quânticos individuais.

Em suafala, ele deu o tom para os debates que se prolongariam ao longo de todo o dia. Diante de uma plateia composta majoritariamente por estudantes, professores e pesquisadores universitários, o físico defendeu a importância da Educação como resposta para os desafios globais.

“Vivemos momentos difíceis, com questões políticas que impactam a Ciência. As divisões que nos separam se tornaram tão grandes que impactam na forma como vislumbramos um futuro comum. Em paralelo, fanatismo religiosos, fake news, negacionismo e teorias conspiratórias possuem um poder destrutivo. A resposta eficaz a tudo isto é Educação, e desde a infância”, ressaltou Haroche.

De acordo com o físico, a educação básica e a valorização profissional dos professores são necessárias para que as sociedades não cedam à tentações autoritárias. “Se as crianças entenderem o valor da Ciência e do método científico, baseado na observação dos fatos, teremos êxito. Isso desencadeará o pensamento científico e o benefício da dúvida racional. Aprenderão o que é observação, experimentação e teoria. O corpo docente não é devidamente treinado e reconhecido em sua importância de transformar essas crianças em cidadãos responsáveis. Precisamos moldar mentes racionais para que não sejam submissas a ideias demagogas. Qualquer sociedade que não é esclarecida pela Filosofia, é enganada por charlatões”, complementou. Por fim, o vencedor do Nobel de Física de 2012 lamentou o fato de “o esclarecimento estar sob ameaça e em declínio em muitos países”.

Em seguida, durante debate sobre ”Como a ciência beneficia a sociedade”, Helena Nader provocou David MacMillan a dizer, também, como a sociedade pode controlar a Ciência, “não no sentido de proibição, mas do uso adequado da Ciência. A internet, por exemplo, é livre, está por toda a parte, e algumas pessoas a utilizam para divulgar informações equivocadas, falsas”, argumentou o químico britânico e professor da Universidade de Princeton, que recebeu o Nobel de Química em 2021 devido ao descobrimento de novos catalisadores de imínio, e o subsequente desenvolvimento de mais de 50 novos processos de reação.

MacMillan afirmou que temos grandes desafios, como a crise climática. “Ela é fruto dos benefícios da ciência e das inovações nos últimos 150 anos. O acesso igualitário à medicamentos também é um tema de como a Ciência deve beneficiar a sociedade, vai contra a indústria farmacêutica, e é um tema que gera pressão política sobre os governos”, comentou. Por fim, o britânico afirmou que “nós como cientistas, cada vez mais, nos envolvemos com nossos tópicos, e nos distanciamos da população. A comunicação sobre ciência é um tópico muito importante, é preciso explicar a informação para a sociedade de uma forma geral”, ressaltou. De acordo com ele, essa avaliação faz com que ele se perceba como um embaixador da Ciência.

Ao falar sobre Diversidade na Ciência, May-Britt Moser afirmou que para ser um cientista é preciso talento, paixão pela Ciência e dedicação. “Se restringir a população que pode ter condições de pesquisar para fazer Ciência, ficaremos restritos. Precisamos expandir, buscar talento em todas as partes. Ciência é como arte, precisa de criatividade. Não há como ser criativo se você só conversa com pessoas ‘nichadas’, você restringe os pontos de vista”, defendeu a neurocientista e psicóloga norueguesa, May-Britt Moser, que trabalha no Centro de Computação Neural na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. Foi vencedora do Prêmio Nobel de Medicina em 2014 pela descoberta de células relevantes para a codificação do espaço e a memória episódica, permitindo novos conhecimentos sobre a doença de Alzheimer, dentre outros.

A neurocientista defendeu ainda um maior financiamento para jovens pesquisadores, em diálogo com os “dinossauros”, a forma como ela se define – e também a colegas de sua faixa etária.  “Precisamos que todos sejam criativos. Eu não entrei na Ciência para ganhar o Prêmio Nobel, mas porque era divertido e fiquei viciada em encontrar respostas para as perguntas”, destacou.

 

Assista à íntegra do evento