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Muito além da pobreza

Pesquisa realizada pela Fiocruz Bahia traz evidências sobre a redução da mortalidade infantil após a criação do Bolsa Família. O dado mais geral trazido pela pesquisa é que, entre as beneficiárias do programa, houve uma redução de 17% na mortalidade de crianças entre 28 dias e um ano de vida
Cátia Guimarães - EPSJV/Fiocruz | 17/01/2022 11h02 - Atualizado em 01/07/2022 09h40
Foto: Agência Brasil

É provável que a evidęncia mais recente sobre o impacto do Bolsa Família nas condições de saúde da população brasileira seja a pesquisa do Centro de Integraçăo de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, sobre mortalidade na infância. Os resultados foram publicados num periódico científico internacional, somando-se às centenas de milhares de estudos realizados sobre o programa em todo o mundo.

A pesquisa não engloba a mortalidade neonatal, até porque, como explica Dandara Ramos, uma das coordenadoras, as crianças vítimas desses casos dificilmente chegam a ser inseridas no Cadastro Único. E, para os resultados encontrados, essa diferença é fundamental. “Nos últimos 20 anos, o Brasil teve uma redução muito expressiva na mortalidade na infância, mas essa redução se deu principalmente no período pós-neonatal, de 28 dias a um ano. O componente de um a quatro anos não teve uma redução tão expressiva. Então, a gente mostra justamente que o Bolsa Família foi um dos fatores que conseguiu contribuir para alguma redução nesse componente que năo estava reduzindo tanto na média nacional”, explica Ramos. E completa: “A mortalidade de um a quatro tem determinantes muito difusos. Tem muita participação dos óbitos por violência, por causas externas, e dos óbitos ligados às condições de vida, como pobreza e desnutrição”. Daí a importância do Bolsa Família.

O dado mais geral trazido pela pesquisa é que, entre as beneficiárias do programa, houve uma redução de 17% na mortalidade de crianças nessa faixa etária. Essa redução foi ainda maior entre as crianças que nasceram prematuras, nas que moram nos municípios mais pobres e entre filhos de mães pretas. “O grande diferencial do Bolsa Família é que ele é um programa intersetorial, então a diferença não se dá só na economia: ele vai agregar assistęncia social e atençăo à saúde”, analisa Ramos.

E essas săo apenas as notícias mais recentes. Pesquisas do mesmo Cidacs/Fiocruz Bahia apontam mudança no perfil nutricional das crianças de famílias beneficiárias do programa entre 2008 e 2012, com uma reduçăo da baixa estatura, embora acompanhada por um aumento do excesso de peso. Maior percentual de cura e menor índice de abandono do tratamento para tuberculose e reduçăo nos casos e detecção mais precoce de hanseníase săo apenas alguns de outros resultados que pesquisas diversas associam à cobertura do Bolsa Família. Isso sem contar os números diretamente ligados às condicionalidades do programa, como a realização de acompanhamento pré-natal, vacinação e até fatores ligados a outras áreas, como a permanência das crianças na escola. “A gente sempre fala sobre como a pobreza, a falta de saneamento, a falta de educação, tudo isso săo determinantes sociais da doença. Com o Bolsa Famíla, pela primeira vez a gente conseguiu mostrar o oposto: que a redução da pobreza causa saúde”, resume Tereza Campello.

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