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OMS põe em foco a performance da saúde durante grandes catástrofes

Dia Mundial da Saúde destaca o papel estratégico do planejamento para garantir que unidades de saúde, especialmente hospitais, continuem funcionando em eventos de calamidade pública.
Maíra Mathias - EPSJV/Fiocruz | 09/04/2009 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


Duas crianças se divertem à beira do mar quando, de repente, uma onda destrói o castelo que faziam e leva embora seus brinquedos. É essa a cena escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para sintetizar o tema do Dia Mundial da Saúde deste ano, que é sempre comemorado no dia 7 de abril. A campanha, cujo lema é ‘Quando acontecem os desastres, os hospitais seguros salvam vidas’ tenta chamar a atenção para os prejuízos sociais que a vulnerabilidade dos sistemas de saúde pode causar quando não há um preparo adequado para o enfrentamento de emergências públicas.



Mas o que pode ser feito?



O alerta da OMS parece óbvio: os edifícios, os serviços, e os profissionais de saúde também podem tornar-se vítimas em catástrofes. No entanto, afirma a Organização, “o tema precisa ser mais discutido, pois o número de situações de emergência no mundo inteiro só faz aumentar”. Em carta aberta sobre o assunto, a diretora geral da OMS, Margaret Chan, destaca que as mudanças climáticas pelas quais o planeta vem passando devem aumentar o número de eventos como terremotos, enchentes, tornados e furacões. “Em catástrofes naturais alguns países perderam por volta de 50% de sua capacidade hospitalar bem na hora em que suas populações mais precisavam”, diz Chan, destacando a gravidade das interrupções nos serviços. “Quando um desastre ocorre, muitas vidas são perdidas ou salvas no instante imediato após o evento. Pessoas contam que hospitais e outras instalações de saúde consigam responder rápida e eficientemente às suas necessidades”, continua a diretora geral. Para que isso ocorra, a Organização lista algumas boas práticas que podem ser implementadas por todos os países.



A primeira delas é investir na infra-estrutura das unidades de saúde. O sucateamento dessas construções contribui para que elas sejam destruídas com facilidade, principalmente no caso dos desastres naturais. Mas manter o prédio intacto e não ter equipamentos e medicamentos também não ajuda. Por isso, a OMS advoga que os governos nacionais devem listar quais são os eventos mais prováveis de acontecer em seus territórios. Por exemplo, no caso do Japão, os terremotos, no caso do Brasil, as enchentes. A partir dessa lista, pode-se antecipar em cada caso o tipo de demanda e suas correspondentes necessidades de formação e fornecimento: combate à hipotermia nas enchentes, tratamento de lesões e fraturas para os atingidos por terremotos. Preparar os profissionais da saúde para lidar com grande quantidade de pacientes sem perder o controle é colocado como desafio, tanto do ponto de vista técnico quanto do emocional. 



Embora a campanha dê algum destaque às unidades complexas, “todo e qualquer estabelecimento de saúde, independente de seu porte ou localização, se rural ou urbano, além de toda a rede de assistência”, diz a Organização, deve ser levado em conta. Também no que se refere às situações de emergência, além dos desastres naturais há menção aos conflitos armados e ao terrorismo biológico. 



Coordenadora do Curso de Especialização Profissional de Nível Técnico em Gestão Hospitalar da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), Simone Ferreira analisa como positivo a fato de a OMS ter colocado a questão na pauta de sua agenda política e lembra que essa discussão não tem muito destaque no Brasil, onde o sucateamento dos serviços já se dá no cotidiano das unidades. “É emblemático o fato de ter sido declarado o estado de calamidade pública no setor hospitalar do município do Rio de Janeiro em março de 2005”, diz, referindo-se ao Decreto 5.392/05 , que garantiu que a União assumisse seis hospitais da rede municipal, dentre eles o Miguel Couto e o Souza Aguiar, por um período de quase um mês naquele ano. 



Para a coordenadora, é preciso insistir na mudança do modelo de assistência que privilegia o atendimento imediato. “Os casos de urgência (quando não há risco de morte imediato) e emergência (quando há) inundam os sistemas de saúde. De acordo com uma visão de saúde mais curativa, atender os pacientes quer dizer contornar o problema e mandá-los embora para casa. É preciso que haja um direcionamento para a atenção básica, que é onde efetivamente vai ocorrer a prevenção”, diz ela.



Simone também destaca que um dos desafios da gestão em hospitais no país é a contratação de pessoal: “No Brasil, para além da formação de profissionais, que é fundamental, existe o problema da falta quantitativa de trabalhadores em todas as unidades da rede pública e em todos os níveis de atenção. Sem isso, não há como manter um bom nível de atendimento em condições normais, muito menos em eventos que atinjam um grande número de pessoas de uma só vez”.