Uma pesquisa inédita divulgada pelo Ministério da Educação (MEC) revela que há uma significativa absorção pelo mercado de trabalho de alunos de nível médio que, entre 2003 e 2007, estudaram em escolas técnicas federais. Segundo o levantamento, 72% desses estudantes estão empregados com 65% deles atuando na área escolhida. Os dados foram levantados a partir de entrevistas realizadas com 2.657 jovens que estudaram em 130 instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Segundo o estudo, o grande número de inserção dos egressos dos cursos técnicos da rede federal é um fato em praticamente todo país, com pequenas variações entre as regiões. O Centro-Oeste chega a 74%, Nordeste 71%, Norte e Sul têm o mesmo índice (74%) e apenas o Sudeste indica uma queda com 69%.
A pesquisa traz também dados sobre a inserção dos técnicos formados pelas escolas federais no mundo do trabalho, como áreas de atuação, diferença salarial por regiões e gênero, educação continuada e avaliação da formação.
Formação
A pesquisa indica como expressivo o número de egressos que dão continuidade aos estudos. Eles aparecem como 38%, do total de entrevistados, contra 33% que só trabalham. O grupo que apenas estuda chega a 22%, enquanto 7% não estudam e não conseguiram uma oportunidade de emprego.
Sobre a formação, 59% dos entrevistados que trabalham disseram que o ensino oferecido pela Rede Federal é compatível com as exigências do seu trabalho; 24% classificaram as exigências do trabalho como superiores àquelas atendidas pelo curso técnico em que se formou e 17% afirmaram que têm cobranças de capacidade inferior à formação oferecida no curso técnico.
O levantamento ainda destaca dados que sugerem uma relação próxima da educação profissional e tecnológica com o mundo do trabalho. No que diz respeito às atividades realizadas, 57% dos entrevistados que trabalham realizam atividades técnicas, 19% realizam atividades administrativas, 6% atividades gerenciais, 10% atividades comerciais e 8% outras atividades.
Ana Margarida Campello, professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), destaca a importância desse tipo de iniciativa, mas questiona o mote da pesquisa que, segundo ela, vai ao encontro das políticas desenvolvidas pelo governo federal em relação à formação técnica. “Estudos como esse são muito importantes porque mostram o cenário do nível técnico no Brasil e traz questões voltadas para a formação nas escolas técnicas federais”, elogia, mas completa: “Vejo essa pesquisa no contexto da política de expansão e valorização do curso técnico que vem sendo implementada desde o início da década de 2000 pelo governo federal. O estudo também mostra prioridade de investimento em uma visão instrumental da formação técnica, ou seja, voltada para o mercado de trabalho e não para uma formação mais abrangente”, opina.
Salário e satisfação
Segundo a pesquisa, 57% dos técnicos formados pelas escolas da rede federal ganham até três salários mínimos; 11% estão na faixa de três a quatro; 7% ganham de quatro a cinco e 8% ganham mais do que cinco salários. Apesar desses índices, o levantamento mostra que 27% dos técnicos se dizem muito satisfeitos com a sua situação profissional e 54% estão satisfeitos, com pequena variação regional.
Nas questões de gênero, a pesquisa reflete a desigualdade no mercado de trabalho de maneira geral. Além disso, 74% dos homens têm acesso ao emprego, enquanto, nas mulheres, esse número cai para 66%. Mais: apenas 6% das mulheres técnicas recebem acima da média de mercado contra 14% dos homens, quando desempenham a mesma função. Por fim, o estudo constata que há mais mulheres do que homens trabalhando em áreas diferentes da sua formação.