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Pesquisadora cubana debate ciência e sociedade na EPSJV

“O capitalismo é um animal predador ou um vírus?”. Foi com esse questionamento, direcionado à reflexão do público, que Romelia Pino, pesquisadora e diretora do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências de Cuba, iniciou a palestra ‘Ciência e Sociedade na América Latina e Contemporânea’, que marcou o encerramento do curso de Especialização em Educação Profissional em Saúde da EPSJV. “O predador acaba com a presa completamente, deixando apenas o osso. Já o vírus destrói o organismo ainda que por fora ele pareça inteiro”, completou.

Em seguida, Romelia fez um apanhado histórico, relacionando o desenvolvimento econômico ao desenvolvimento humano no decorrer dos séculos. Assim, chegou à realidade em que a distribuição de renda e mercadorias era tão discrepante que as diferenças se converteram em injustiças. Ela citou os dados de uma pesquisa intitulada ‘Informe de Desenvolvimento Humano’, realizada entre 1991 e 1999, para explicitar o crescimento dos níveis de pobreza diante do fortalecimento das políticas liberais, lideradas – e impostas – pelos chamados ‘países desenvolvidos’. Romelia enfatizou o fato de que, no último ano da pesquisa, o conhecimento ganhou significativo status, sendo considerado responsável por metade do PIB do Primeiro Mundo.

Citando Marx, ela esclareceu que a situação atual é algo historicamente inevitável. No entanto, é impensável permitir que se continue assim. Para a pesquisadora, é preciso que sejam criadas alternativas para se reverter o processo que está instaurado, em que o crescimento econômico está necessariamente atrelado à perda de direitos e à exploração, dentre outros malefícios. Um caminho é aliar o marxismo e suas ferramentas ideológicas a outros pensamentos críticos, já que ele, sozinho, poderia não ser suficiente.

Ao entrar no tema do desenvolvimento sustentável, Romelia citou pesquisas recentes que culpam o indivíduo e suas ações pela destruição do meio ambiente, deixando de lado as práticas capitalistas, num processo que ela caracterizou como uma ‘ofensa à nossa inteligência’. Além disso, comentou os diversos tipos de exclusões geradas pelo sistema capitalista, entre elas a exclusão educacional e científica. Ela explicou que, como os países do Terceiro Mundo não possuem revistas científicas amplamente reconhecidas e respeitadas, as pesquisas divulgadas são, em geral, de interesses dos países de Primeiro Mundo. Cientes, portanto, da importância de publicações científicas no Terceiro mundo, já existem movimentações em Cuba nesse sentido.

Romelia deixou claro ser fundamental a aproximação entre as ciências sociais e as ciências humanas, de forma a se repensar o modelo de desenvolvimento que está hoje estabelecido. Ela também destacou a importância de se buscar a essência e a gênese do fracasso do modelo atual, tantas vezes ocultadas pela alienação ou por ideologias superficiais. “É um erro pensar que o subdesenvolvimento é uma etapa para chegar ao desenvolvimento”, disse. Por fim, agradeceu o convite da Escola e, especificamente, da professora Virgínia Fontes, da pós-graduação. “Temos muitos ideais em comum. E há muito tempo não se fala em ideais”, concluiu.

Atualmente, Romelia Pino é pesquisadora titular e membro do Tribunal de Cursos Científicos de Filosofia, além de membro do Conselho Superior de Ciências sociais de Cuba e do conselho editorial da revista Ciências Sociais, da qual também foi diretora. Ela recebeu duas vezes o Prêmio Academia de Ciências, concedido aos mais destacados pesquisadores.