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Sem Terrinha protestam por escolas na semana das crianças

Manifestação no centro do Rio denuncia precariedade da educação no campo e urgência da reforma agrária
Raquel Júnia - EPSJV/Fiocruz | 14/10/2010 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Manifestação dos Sem Terrinha“Brilha no céu a estrela do Che. Somos Sem Terrinha do MST”. As palavras de ordem ecoaram na tarde do último dia 11 de outubro, no centro da cidade do Rio de Janeiro, cantadas por 140 meninos e meninas de acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado do Rio.  Ás vésperas do dia das crianças, eles fizeram uma manifestação por educação no campo e pela reforma agrária, na atividade que encerrou o encontro estadual da 13ª Jornada Nacional dos Sem Terrinha que, este ano, aconteceu na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). O protesto durou cerca de duas horas, durante as quais as crianças leram a carta final do encontro exigindo “escola boa é perto de casa, bonita, não caindo aos pedaços, com merenda escolar, sala de vídeo, quadra, área de lazer, biblioteca, informática”.

Antes do protesto, os Sem Terrinha confeccionaram cartazes e desenhos para levarem à manifestação. Nas produções das crianças, havia muitos desenhos de casas, árvores e frases pedindo melhores condições de estudo e de vida. “Queremos escola melhor, queremos os nossos direitos, queremos uma vida melhor e queremos a nossa vitória”, dizia um cartaz escrito com letras coloridas. Quem passou pelo Buraco do Lume, onde foi realizada a manifestação, pôde assistir também a uma esquete de teatro protagonizada por adolescentes do assentamento Zumbi 4, na zona rural de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. A apresentação denunciou o trabalho escravo nas lavouras de cana de açúcar e a urgência de se implementar um projeto de reforma agrária no país para garantir a dignidade dos trabalhadores. 

Ainda durante o protesto foi denunciada a realidade de abandono e precariedade das escolas rurais em todo o país. De acordo com o MST, de 2005 a 2007 foram fechadas oito mil escolas rurais no Brasil, e, apenas na região de Campos dos Goytacazes, 12 escolas localizadas no campo pararam de funcionar entre 2009 e 2010. “Estamos aqui para cobrar do MEC [Ministério da Educação] e do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e dizer que não queremos escolas fechadas. O dia das crianças é para festejar, mas também para se reunir e fazer luta”, discursou Elisângela Carvalho, do setor de educação do MST. 

“A escola que queremos ter é com educação, alegria e que tenha tudo o que um aluno merece”, diz a carta final do encontro. O documento lido pelas crianças durante a manifestação também denuncia que nas escolas do campo não há áreas de lazer ou que, naquelas em que esses espaços existem, falta manutenção. Os Sem Terrinha reclamaram ainda que faltam bibliotecas, merenda escolar e material pedagógico. Além disso, praticamente não há escolas que ofereçam o segundo segmento do ensino fundamental. O Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) e o Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) também estiveram presentes e expressaram solidariedade aos Sem Terrinha na luta pelo direito à educação.

Manifestação dos Sem Terrinha“Sem Terrinha em ação, pra fazer revolução”

O encontro do Rio de Janeiro integrou a Jornada Nacional dos Sem Terrinha, que acontece todos os anos simultaneamente em vários estados do país, sempre nas datas próximas ao 12 de outubro, quando se comemora o dia das crianças. Neste ano, em sua 13ª edição, a Jornada teve como tema central “Escola, Terra e Dignidade”. No Rio de Janeiro, durante três dias, crianças, adolescentes e adultos se reuniram na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), onde participaram de oficinas de formação política, momentos de lazer – como a visita ao Museu da Vida da Fiocruz –, espaços de integração com crianças da cidade, moradoras das favelas do entorno da Fiocruz, e ainda uma série de oficinas culturais, como de fotografia, vídeo, pintura, música e dança. Trabalhadores e estudantes da EPSJV também participaram ativamente em todo o evento, como voluntários. “Os Sem Terrinha representam as crianças do Brasil. Vocês, pais da cidade, que estão passando por aqui, também têm compromisso com a escola do campo. Defender a escola pública é também defender a escola rural”, discursou a diretora da EPSJV, Isabel Brasil, durante a manifestação, enquanto a criançada repetia no centro do Rio de Janeiro: “Bandeira, bandeira, bandeira vermelhinha, o futuro da nação está nas mãos dos Sem Terrinha”.

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