Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) mostrou que entre 2010 e 2019 o SUS perdeu 15,9 mil leitos de internação pediátrica. Em 2010, o país dispunha de 48,8 mil leitos no Sistema Único de Saúde (SUS). Em maio deste ano, eram 35 mil.
A rede privada teve uma redução de 2.100 leitos no mesmo período, dispondo de um total de 8,7 mil leitos hoje.
Aristóteles Cardona Júnior, médico da Rede de Médicas e Médicas Populares e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), em entrevista ao Repórter SUS, programa produzido em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), atribui o fechamento de leitos à queda no financiamento do sistema público de saúde.
“Havendo essa diminuição dos leitos, principalmente os pediátricos, no SUS, principalmente por desfinanciamento. Ou seja, a gente tem menos dinheiro do que o SUS necessita para atender a população da maneira adequada, ao mesmo tempo que houve um agravamento da situação em poucos anos”.
Os estados do Nordeste foram os que mais sofreram com a desativação dos leitos de internação. Em nove anos, a região do Nordeste teve uma perda de aproximadamente 5.300 leitos, seguida pelo Sudeste, com uma diminuição de 4.200 leitos.
Segundo ele, isso já é um impacto do congelamento dos investimentos imposto pela Emenda Constitucional 95, aprovada em 2016 pelo governo Michel Temer.
“Quando a gente pensa na Emenda Constitucional, que congelou o orçamento por 20 anos, só é possível imaginar que isso necessariamente vai trazer sérios problemas. Essa diminuição de leitos que representa desfinanciamento, precarização, a tendência é que se intensifique. Ano a ano vamos ter que lidar com problemas como esse”.
Cardona alerta ainda que a tendência é o agravamento deste cenário, em razão da falta de financiamento adequado na Atenção Primária à Saúde e na atenção hospitalar.
“Certamente com a crise que a gente vive no nosso sistema de saúde deve se aprofundar nos próximos anos por conta desse conjunto de fatores”.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os leitos são usados para internar crianças por mais de 24 horas, principalmente para tratar doenças respiratórias, com prevalência acentuada nos períodos de outono e inverno, como bronquiolites, crises de asma, pneumonias. Há também os problemas gastrointestinais, alergias e arboviroses, como dengue, zika, febre chikungunya e febre amarela.
Por Ana Paula Evangelista, para Brasil de Fato (RJ)
Locução: Katarine Flor
Edição: Cecília Figueiredo/Saúde Popular
Foto: Santa Casa/Divulgação