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Por uma alimentação saudável, com outro modelo de agricultura

Projeto de sustentabilidade da EPSJV/Fiocruz garante que alimentos servidos aos estudantes venham da agricultura familiar, sem agrotóxicos
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 08/03/2018 12h19 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Uma parceria com agricultores familiares para propiciar o acesso dos alunos a uma alimentação saudável e livre de agrotóxicos: isso resume o Projeto ‘EPSJV Sustentável’, que teve início esta semana na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz. A iniciativa será viabilizada com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que financia alimentação nas escolas e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública. “Apesar de a Escola já fazer toda a parte de elaboração de cardápio de acordo com o Programa, somente no ano passado, foi liberada a verba do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação [Fundeb]”, explica Taísa Carvalho, nutricionista da EPSJV/Fiocruz e uma das idealizadoras do projeto. Juliana de Carvalho, responsável pelo setor de compras da Escola, completa: “Fomos os primeiros a fazer uma chamada pública para agricultores familiares dentro da Fiocruz”.

De acordo com a Lei nº 11.947 de 2009, do total dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no âmbito do PNAE, no mínimo 30% deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. A EPSJV/Fiocruz, no entanto, decidiu destinar 100% da verba do programa para comprar alimentos da agricultura familiar – apenas o feijão ficou de fora porque não teve oferta de agricultor. “Abraçamos essa demanda e todos os trabalhadores se mobilizaram e foram fundamentais para que a gente conseguisse comprar esses alimentos”, afirma Juliana.

“Como esse é um processo novo para a Escola Politécnica, fizemos visitas institucionais ao Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e ao Colégio Pedro II. Só depois de toda essa bagagem, começamos a elaborar o nosso projeto de alimentação e então chamamos agricultores para saber o que era viável de ser fornecido para merenda escolar na agricultura do Rio de Janeiro, além de termos feito uma pesquisa de preços”, explica Taísa. 

O resultado é que todas as quartas e sextas-feiras os agricultores da Cooperativa de Mulheres Rural Legal de Nova Friburgo, da Cooperativa de Produção Agroecológica Terra Fértil e os agricultores do grupo informal, José Antônio Pereira e Cristina dos Santos, entregam na Escola hortaliças, frutas e tubérculos, como banana, tangerina, aipim, alface, abobrinha, cenoura, dentre outros. Taísa explica que a Escola fez um contrato híbrido, no qual os itens que não podem ser fornecidos pela agricultura familiar são oferecidos pela empresa contratada para o bandejão. Mesmo assim, são seguidas todas as orientações nutricionais do programa escolar. “Só há oferta de doces duas vezes por semana, fizemos a diminuição dos alimentos processados, restrição de temperos artificiais e uso de xaropes, além de usarmos apenas uma quantidade pequena de alimentos em conserva”, ressalta.

Taísa afirma que, a partir disso, a Escola tem feito um trabalho de educação nutricional e conscientização sobre sustentabilidade com os alunos. “Com esse projeto, a gente tem um fortalecimento da nossa relação com os movimentos sociais e a melhoria da alimentação escolar, já que a agricultura local não faz uso de agrotóxicos. Podemos proporcionar aos nossos alunos um alimento melhor e ainda fortalecer a nossa agricultura local”, comemora a nutricionista.
Além da agricultura familiar, em 2018 a EPSJV adotou também outra medida no projeto de sustentabilidade. Segundo Juliana, hoje os órgãos federais têm a obrigação de reduzir o consumo de copos descartáveis em 20%. Pensando nisso, o Politécnico mudou a prática e comprou canecas sustentáveis para os trabalhadores e alunos dos cursos diários. “Todo o projeto foi feito sob a lógica da utilização consciente. Nosso foco maior é reduzir o consumo de descartáveis, é uma mudança de cultura institucional e individual. Precisamos ter o uso consciente não somente na instituição, mas também em casa”, destaca, ressaltando que essas iniciativas têm envolvido toda a equipe de compras. E acrescenta: “Ao mesmo tempo que ajudamos o meio ambiente, poluindo menos, reduzimos o gasto da administração pública, que poderá ser usado em outras coisas”.

Parceria com movimentos sociais do campo e luta contra os agrotóxicos

A Escola Politécnica tem uma longa trajetória de parcerias com movimentos sociais do campo que promovem práticas agroecológicas, e a saúde da população e o meio ambiente. No ano passado, a Escola publicou o livro ‘Curso Técnico em Meio Ambiente - Tramas e Tessituras’, dividido em cinco fascículos, que sistematiza a experiência, os dilemas e aprendizados do Curso Técnico em Meio Ambiente, realizado pela EPSJV/Fiocruz em parceria com a Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal da Fronteira do Sul e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Ceará e no Paraná. Em 2012, a parceria já tinha gerado outro livro, o Dicionário da Educação do Campo. Cursos de especialização técnica (como o de ‘Políticas em Saúde’ e ‘Saúde Ambiental’) e até uma pós-graduação (em ‘Trabalho, Educação e Movimentos Sociais’) também ilustram essa parceria. Isso sem contar o ‘Dossiê Abrasco’, uma publicação que sistematiza estudos de um grande grupo de pesquisadores exatamente sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Vários outros cursos que dialogam com esse tema já foram e ainda são oferecidos pela EPSJV. Qualificação Profissional em Cooperativismo e Agroecologia, Qualificação Profissional em Vigilância em Saúde Ambiental com ênfase em Riscos Biológicos e Qualificação Profissional em Vigilância em Saúde Ambiental para Bacias Hidrográficas são alguns exemplos.

Desde 2014, a Escola tem promovido, em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), a ‘Feira Agroecológica Josué de Castro - Sabores e Saberes’, realizada quinzenalmente no campus Fiocruz como parte de um projeto institucional. A feira busca trazer o debate da transição agroecológica e da soberania alimentar com a comercialização de alimentos livres de agrotóxico. Na próxima semana, de 13 a 17 de março, a EPSJV/Fiocruz vai promover duas atividades – uma mesa-redonda e uma oficina – que no Fórum Social Mundial da Saúde e Seguridade Social, que antecederá o Fórum Social Mundial de 2018.