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Banco Mundial, a que veio?

Entender as intenções que pairam sob as recomendações do Banco Mundial implica saber que seu objetivo é manter o capitalismo em nível mundial
Ana Paula Evangelista - EPSJV/Fiocruz | 19/12/2017 14h09 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Criado em 1944, no final da Segunda Guerra, o Banco Mundial tem como objetivo organizar a manutenção do capitalismo em nível mundial. “Muito alinhado às orientações de políticas internacionais dos Estados Unidos, o Banco Mundial, historicamente, usa o dinheiro como lubrificante para entrada de ideias, orientações, prescrições, condicionalidades”, afirma Marcela Pronko. Então, qual o papel do Banco Mundial hoje? Segundo a pesquisadora, ao longo dos últimos anos, o foco do Banco Mundial é constituir um centro poderoso de informação sobre o funcionamento das economias do mundo inteiro, sempre trabalhando na perspectiva de produção de evidências. “O Banco Mundial detém a capacidade de coletar essas informações estatísticas no mundo inteiro e transformá-las em receitas de como algo deveria funcionar”, explica.

Para entender as intenções que pairam sob as recomendações do Banco Mundial, é preciso considerá-lo como um ator político de primeira ordem no cenário internacional, dispondo de mais de 12 mil funcionários e imenso aparato de produção intelectual. “Apesar do histórico pouco animador em matéria de criação de conhecimento inovador em Economia, o Banco desfruta de legitimidade como fonte de dados, disseminador de ideias, produtor de análises comparativas e guia em matéria de políticas de desenvolvimento, explica João Marcio, ao afirmar que as publicações dessa instituição são referências obrigatórias em cursos de Economia e Administração no mundo inteiro. E continua. “As análises comparativas internacionais feitas pelo Banco dificilmente têm concorrência à altura no meio acadêmico, dada a estrutura de que dispõe. Como regra, as últimas publicações e resumos de imprensa da instituição são tomados como referência autorizada pelos maiores veículos de comunicação do planeta”.

Fonte de dados 

Depois de anos de estudo voltados a dissecar as interações do Banco Mundial, João Márcio não tem dúvidas de que, na cobertura de diversos assuntos, a grande mídia recorre com frequência ao Banco como fonte de dados econômicos e sociais. A mesma influência pode ser constatada entre formuladores de políticas e gestores públicos nos países clientes, como ocorre no Brasil. “Além disso, o Banco também é um grande contratante no mercado internacional de consultorias, pagando alto por relatórios encomendados a especialistas escolhidos exatamente porque, de modo geral, têm afinidade com as ideias que o Banco dissemina”. É bom lembrar que consultorias ao Banco também resultam em prestígio aos contratados, abrindo-lhes portas no seleto mercado de ‘especialistas em desenvolvimento’, esclarece.

Com uma vasta atuação intelectual, o Banco Mundial abrange todos os setores do desenvolvimento, com destaque para educação, saúde, energia, política macroeconômica e fiscal, políticas sociais, infraestrutura, gestão urbana, desenvolvimento rural, meio ambiente e administração pública. Segundo o professor, o tipo de pesquisa que o Banco faz se parece com a melhor pesquisa técnica, mas na verdade é altamente prescritiva a respeito do que os governos devem ou não fazer em matéria de políticas públicas. Para João Márcio, a atividade de pesquisa é usada com frequência para fazer proselitismo da agenda política do próprio Banco, sem ter uma visão balanceada das evidências e sem expressar o ceticismo adequado. “A instituição há anos pratica um narcisismo agudo, respaldando as suas pesquisas em pesquisas do próprio Banco ou encomendadas por ele. Assim, enquanto um documento depende do outro para sua evidência e argumentação, um corpo interno de conhecimento é produzido e reforçado, amalgamando ideias e práticas e desencorajando o dissenso interno”, destaca João Márcio.
Fica evidente que pesquisa e política são inseparáveis no cotidiano do Banco Mundial. “Se o Banco Mundial fosse apenas um emprestador, o seu corpo de funcionários poderia ser reduzido a apenas um décimo. Na verdade, o dinheiro sempre funcionou como instrumento de indução do produto principal: ideias e prescrições sobre o que fazer em matéria de desenvolvimento”. Dessa forma, a institucionalização de ideias e prescrições exige, por sua vez, a organização de um clima político e intelectual hospitaleiro pelo mundo afora, razão pela qual o Banco investe bastante em relações públicas, pesquisa, atividades de capacitação profissional e articulação com instituições internacionais, agências bilaterais, órgãos públicos, fundações empresarial-filantrópicas e organizações não governamentais onde atua.

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