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Quem é o docente da educação profissional?

Após três anos de discussão, MEC e CNE caminham para a aprovação das primeiras diretrizes curriculares nacionais para a formação docente na educação profissional. Nessa matéria, você encontra a história que precedeu esse debate, diferentes posições sobre como deve acontecer essa formação e algumas experiências.
Maíra Mathias - EPSJV/Fiocruz | 16/08/2011 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Uma outra experiência de especialização voltada especialmente para as Escolas Técnicas do SUS aconteceu no âmbito do Profae. O Centro de Educação Profissional e Tecnológico da Universidade Estadual de Montes Claros (ETSUS Unimontes) teve quase 40 profissionais formados em uma pós-graduação lato sensu voltada para a educação profissional. O curso, elaborado, implantado e coordenado pela EPSJV, aconteceu entre 2002 e 2003 e foi integralmente presencial, com aulas quinzenais ministradas às sextas e sábados.

O objetivo do curso foi formar profissionais já ligados ou que tinham intenção de exercer atividades vinculadas à educação profissional em saúde na docência e na gestão. Marise Ramos, que coordenou o curso, faz um destaque que o mais importante da formação foi sua finalidade, que implica o questionamento: "mas pra quê?". "A finalidade foi de que os egressos, por meio da capacidade de investigação científica, análise crítica e intervenção prática sustentada por um conhecimento sólido, pudessem tanto aprimorar o seu exercício profissional quanto contribuir para o fortalecimento do SUS na perspectiva dos princípios da Reforma Sanitária", diz, destacando: "Essa concepção é importante porque para compreender e pensar o SUS que a gente quer, é preciso retomar os princípios da Reforma Sanitária.  Pensar o SUS do ponto de vista da eficiência e eficácia administrativa ou da assistência é necessário, mas  não suficiente". Ela conta que o curso trabalhou os conhecimentos da educação profissional em saúde de forma interdisciplinar em relação aos eixos trabalho, educação e saúde. Algumas das disciplinas estudadas foram economia política, história, sociologia, psicologia e pedagogia.

Carlos Meira, coordenador pedagógico da escola, conta que a criação da Estação de Pesquisa da ETSUS Unimontes, que faz parte da Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde do Brasil, foi uma consequência do curso. "A estação foi criada no embalo do final do curso, quando os profissionais já pesquisavam para seus projetos finais", completa a coordenadora do curso Técnico em Gerência em Saúde, Zaida Crispim.

Professora de Políticas de Saúde da escola, Maria Patrícia Silva era estagiária da instituição quando fez o curso. "Foi um divisor de águas, pois pude conhecer melhor a educação profissional, compreender sua dimensão histórica e também a dimensão ontológica do trabalho. Também foi um incentivo para eu me apaixonar pela área e continuar atuando nela".

A experiência bem-sucedida em Montes Claros foi levada para dentro da própria EPSJV em 2004. Dois anos depois, o curso seria reformulado, para dar maior ênfase às questões da saúde. O ano de 2008 marcou o início da primeira turma de mestrado ofertada pela escola e o último ano da especialização. Na avaliação de Marise, a decisão está diretamente ligada à questão da habilitação para a docência na educação profissional. "Percebemos que a nossa especialização poderia ser repensada no sentido de habilitar com equivalência à licenciatura", diz, detalhando: "Uma formação dessa natureza tem que discutir as determinações econômicas e sociais das relações de trabalho, proporcionar a discussão entre o conhecimento específico e o geral com uma formação técnica e política. Tem que ter uma apreensão do significado da educação da classe trabalhadora, sobre a política, sobre o processo de produção de conhecimento, de bens e de serviços. Tem que ter propriedade sobre a especificidade do trabalho educativo - todas dimensões contempladas pelo curso, que, para habilitar, usaria a mesma base, incluindo disciplinas pedagógicas e ampliando a carga horária".

Marise adianta que a escola planeja voltar a oferecer o curso e acompanhar os debates sobre a proposta das DCN, pois pretende colaborar para a crítica do documento. Em sua opinião, a atual proposta se ressente da formulação de fundamentos e não traz uma diretriz ético-política. "O parecer busca quase que disciplinar o que já existe, sendo que existe muita coisa. Acho que carece de fundamentação quanto à concepção da formação da educação profissional e, com isto, ele vai ser muito debatido"