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As diversas faces do movimento agroecológico em evidência no 4º ENA

Seminários, oficinas, exposições e visitas a experiências agroecológicas da região metropolitana de Belo Horizonte foram algumas das atividades desenvolvidas ao longo do 4º ENA
André Antunes - EPSJV/Fiocruz | 06/06/2018 11h10 - Atualizado em 01/07/2022 09h45
Foto: André Antunes

Os documentos produzidos pelo 4º ENA sintetizam o que foram quatro dias de muitas atividades e debates. Além das plenárias, o encontro também pautou 32 experiências territoriais em agroecologia divididas entre seis biomas brasileiros: Pampa, Caatinga, Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Também houve espaços dedicados ao litoral e às regiões metropolitanas. O objetivo denunciar os impactos causados pelas grandes obras e pelo agronegócio e anunciar as lutas e conquistas dos povos que praticam a agroecologia no país. Os espaços também serviram para uma reflexão sobre o papel das redes e articulações para o avanço da agroecologia nos territórios.

Também foram realizados 14 seminários temáticos, sobre os mais variados temas associados à agroecologia ou com um recorte específico para o que ela se propõe: soberania alimentar, educação do campo, agrotóxicos e transgênicos, mudanças climáticas, feminismo, direito à terra, medicina tradicional e água, entre outros, foram algumas dos temas dos seminários. Outros cinco seminários nacionais foram promovidos, abordando desde temas como os mecanismos de denúncia de violações de direitos dos agricultores, povos indígenas e comunidades tradicionais até os desafios para a construção de políticas públicas estaduais e municipais de apoio à agroecologia. Além disso, mais de 50 oficinas e atividades autogestionadas, organizadas pelas diversas organizações e movimentos que participaram do encontro.

Por fim, os participantes do encontro também tiveram a oportunidade de conhecer de perto algumas das experiências de agricultura urbana e da agroecologia de Belo Horizonte e região metropolitana. No sábado (2/06), foram realizadas visitas a 16 experiências por meio das quais foi possível obter um panorama da produção agroecológica na região.

A reportagem do Portal EPSJV visitou quatro dessas experiências. A primeira foi o Ervanário São Francisco de Assis, em Sabará, onde Aparecida Arruda, a Tantinha, desenvolve desde 1994 um trabalho de disseminação dos conhecimentos tradicionais das raizeiras, divulgando práticas como o cultivo de hortas urbanas, aproveitamento integral de alimentos, manipulação de plantas medicinais e de conscientização sobre a apropriação social da natureza.André Antunes

Em seguida, a reportagem visitou a horta do José Adão Chaves e da Ana Maria Pereira. Ali dois temas que em princípio parecem isolados convergem: a luta pela moradia e a luta pela soberania alimentar e por uma alimentação saudável. Eles são moradores da Ocupação Vitória, surgida em 2013 e parte da comunidade Izidoro, área do maior conflito fundiário urbano do Brasil. Desde 2014 grupos como a Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, entre outros, buscam fortalecer iniciativas de produção agroecológica na região. A horta do Adão e da Ana é um exemplo. Ali eles produzem hortaliças, frutas e legumes sem utilizar nenhum veneno ou fertilizantes químicos, que além de alimentar moradores da comunidade são comercializados nas feiras orgânicas da região metropolitana de Belo Horizonte, gerando renda e subsistência para os dois. Eles ainda atuam difundindo as técnicas de agricultura urbana e da agroecologia junto aos moradores da região.André Antunes

A terceira experiência visitada pela reportagem da EPSJV foi a Horta Cantinho do Céu, mantida há 28 anos pelo agricultor urbano Geraldo Piedade no conjunto habitacional Paulo VI, região nordeste de Belo Horizonte. Ali são produzidas 75 variedades diferentes de produtos, entre hortaliças, frutas e legumes, que são comercializadas na comunidade local.André Antunes

Por fim, a reportagem conheceu também o trabalho do coletivo Roots Ativa. O grupo desenvolve há dez anos atividades de agricultura urbana e preservação ambiental na Vila Nossa Senhora de Fátima, no alto do Aglomerado da Serra, maior favela de Minas Gerais. Além de difundir a cultura rastafári, os integrantes do coletivo, junto com jovens moradores da comunidade, trabalham com a gestão comunitária de resíduos, utilizando os restos de alimentos descartados pelas famílias da área para fazer compostagem e minhocários. Ali eles também mantêm um viveiro de mudas e uma horta, além de desenvolver práticas da permacultura e da agrofloresta. Os alimentos produzidos ali são utilizados para a confecção de produtos como hambúrgueres veganos, entre outros, que são comercializados em feiras e sob encomenda.André Antunes

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