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Educação para emancipação, não para o mercado

A mesa de abertura do encontro contou a discussão do PNE e Pronatec, e a internacionalização da discussão.
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 13/08/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

"O que está acontecendo no Brasil é o mesmo que se passa no México. Não é à toa que as palavras são as mesmas: competência, habilidades, meritocracia...", pontuou o professor do Instituto Federal de São Paulo, Valério Arcary, que dividiu a mesa da abertura "Conjuntura, lutas sociais e educação" com a professora mexicana Maria Luz Arriaga, com o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Leher e com a presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), Marinalva Oliveira, que mediou a mesa realizada no dia 9 de agosto, no Clube Municipal da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Com a definição de ‘tsunami neoliberal', a professora Mariluz Arraiga, da Universidad Nacional Autónoma de Mexico (UNAM), caracterizou as políticas recentes relacionadas à educação. Mariluz explicou que as empresas estão cada vez mais influentes dentro das escolas, com a pressão por uma formação focada em produtividade e limitando conhecimentos. "Querem nos roubar conceitos fundamentais. Temos que trabalhar coletivamente", avaliou e completou definindo que a educação hoje é tratada como um grande negócio: "Eles necessitam se apropriar dos valores que temos para expandirem a agenda do capital", explica. A professora ainda enfatizou a importância de unificar e internacionalizar as lutas.

O professor Roberto Leher, por sua vez, reforçou a importância da educação para o socialismo. Segundo ele, é necessário que se faça um projeto de educação com este foco, uma vez que a pedagogia do capital se faz presente nos tempos atuais. "Há uma mobilização para que os indivíduos entendam que a sociedade é um organismo: uns são braços e pernas, os outros são o cérebro, por isso merecem educação diferenciada entre quem manda e quem executa. É uma ação de classe", analisou.

Além disso, o professor ainda lembrou o papel das escolas neste tipo de formação diferenciada. "Precisamos de uma escola pública que seja boa para o aluno e também para o professor. E que o Estado garanta uma educação de qualidade para todos", enfatizou, lembrando: "Atualmente corporações financeiras estão assumindo o controle da educação. O grupo Kroton, por exemplo, domina 1,5 milhão de estudantes, o equivalente a mais de 60 universidades federais juntas", pontuou.

O professor Valério Arcary, do IFSP, aproveitou a ocasião para fazer uma homenagem ao povo palestino. Reforçou ainda que a situação da educação no Brasil é ‘dramática', de acordo com o recente Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 , divulgado no final do mês de julho pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). "Precisamos garantir financiamento público para a educação pública. Recentemente, o Ministério da Educação declarou que cerca de R$ 1 bilhão do dinheiro do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação] foi desviado. E para onde foi desviado? É fácil responder: para organizações empresariais que financiam partidos políticos", enfatizou.

Valério criticou ainda o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) que, segundo ele, tem como missão preparar os alunos para as empresas. "Não vamos abrir nossos institutos para o Sistema S. Temos que transformar os institutos federais, ao lado das universidades federais, em trincheiras de defesa da educação de qualidade, emancipadora", explicou e defendeu: "Vamos continuar lutando pelo direito de um jovem pobre ter uma educação de qualidade. Enquanto a pobreza for determinante para ter ou não uma boa educação, não arregaremos", concluiu ovacionado pelos presentes.

No final da atividade da manhã, Ahmad Anees Sihwil, que estava representando o Sindicato dos Professores da Palestina, saudou os presentes agradecendo o apoio. "Vou levar o recado ao meu povo e isso reforçará a luta", comentou. A representante do Sindicato Unitário da Educação (SUS) Nara Cladeira, da França, enfatizou a importância do encontro, por conta do processo de mercantilização que a educação vem sofrendo em todo mundo. "Esperamos que possamos propor lutas concretas", informou.

Programação da tarde

No campus do Fundão da UFRJ, 21 grupos debateram temas relacionados à educação. Entre eles estavam a privatização e mercantilização, financiamento, precarização das condições de trabalho, acesso e permanência, democratização da educação, passe livre e transporte público. Os temas foram tirados nos encontros regionais, informou a organização do evento. O resultado do trabalho destes grupos foi apresentado na plenária final.