Uma festa política e científica da saúde coletiva e do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi assim que Luiz Augusto Facchini, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), definiu o 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva durante a abertura oficial do evento, ocorrida ontem, em pleno feriado da Proclamação da República. Ao todo, serão realizadas, até o encerramento do evento no próximo domingo, 32 cursos, 22 seminários, 15 oficinas, 160 painéis, 60 mesas-redondas, 45 palestras e seis debates, reunindo, segundo a organização, cerca de 8 mil pesquisadores, gestores e militantes da saúde no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre. Esta edição terá como tema 'Saúde é desenvolvimento: ciência para a cidadania'.
“Os números dão a dimensão da nossa responsabilidade”, apontou Facchini no discurso de abertura, e completou: “Queremos que esse congresso faça um amplo debate sobre o tema 'saúde e desenvolvimento' e contribua para a fluência de perspectivas sobre o SUS e a saúde pública”. Segundo ele, a escolha do tema se deu pelo momento em que o país atravessa, de crescimento econômico. “A saúde precisa ocupar lugar central na agenda política do país, para que tenhamos uma relação mais igualitária entre os indicadores econômicos e os de saúde e educação. A 6ª maior economia do mundo não pode ocupar a 60ª, 70ª, 80ª posição nos indicadores sociais. Não queremos um SUS segmentado, pobre na atenção básica, que coloque a serviço de interesses privados os serviços especializados. Queremos redes integradas para atender exclusivamente aos usuários do SUS”, afirmou. Facchini ainda apontou algumas questões que, segundo ele, estão entre os principais problemas para a saúde pública hoje no Brasil: “Precisamos enfrentar a violência urbana e rural, para reduzir a epidemia de assassinatos de jovens pobres mas também de indígenas. Precisamos de regulação sobre os alimentos industrializados com excesso de sal para reduzir epidemia de obesidade. Necessitamos fortalecer a proteção ambiental e a área de saúde do trabalhador, reduzindo agravos a natureza dos empreendimentos poluidores, dos agrotóxicos, dos quais somos hoje o maior consumidor mundial. Enfim, temos que mostrar que, sem sistema público e de qualidade, não seremos país rico e sim desigual”, apontou.
O ministro da saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o país passa por um momento decisivo para a consolidação do SUS. “Na última década, tiramos 40 milhões de pessoas da miséria, hoje elas estão na classe média. Ao mesmo tempo, temos 50 milhões de usuários de planos de saúde privados. Temos que lutar muito para garantir que aquilo pelo qual lutamos e conquistamos com o SUS continue sendo um projeto do povo brasileiro. Precisamos convencer a sociedade de que o SUS é fundamental para termos um país desenvolvido”, disse. Padilha lembrou a discussão atual sobre o destino que o país deve dar aos recursos da exploração do pré-sal. “É preciso usar esse dinheiro na valorização do potencial humano do país, destinando 100% destes recursos para a educação e com isso fortalecer também a saúde, porque um dos gargalos para o SUS é que as necessidades do sistema sempre caminharam por uma rota diferente das políticas de formação de profissionais”, avaliou Padilha, para em seguida concluir. “Parabéns á Abrasco pela escolha do tema, porque isso vai impactar fortemente nos rumos políticos do pais. E a visão de que saúde é desenvolvimento não pode se encerrar com o congresso, é preciso que cada um aqui assuma compromisso de fortalecer a ideia de que não se vai construir país rico sem saúde”.
A quebra do protocolo ficou por conta de Palmira Lopes, do Movimento Popular de Saúde da Paraíba, a quem Padilha chamou para falar na abertura do congresso, depois de encontrá-la na Tenda Paulo Freire, espaço dedicado a movimentos sociais no Abrascão. Palmira recitou versos de sua autoria e clamou: "O SUS não pode privatiar! Foi uma conquista de todos, da luta popular", ao que foi aplaudida de pé pela platéa presente.