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EPSJV promove exposição virtual

Trabalhos de Arte dos estudantes do ensino médio estão disponíveis online para o público. Exposição valoriza saberes e culturas dos povos originários, africanos e afro-brasileiros
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 15/12/2020 16h51 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

Os estudantes dos 2º e 3° anos do Curso Técnico de Nível Médio em Saúde (CTNMS) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) apresentaram seus trabalhos artísticos em uma exposição virtual no último dia 10 de dezembro, pela plataforma Zoom. Os trabalhos foram desenvolvidos como parte do esforço das disciplinas de Artes — música, audiovisual, artes cênicas e artes plásticas e visuais — durante a educação politécnica remota e emergencial. Agora, todo o material encontra-se disponível de forma on-line para o público. O tema da exposição é ‘Os Orixás de Pierre Verger e Black Dolls de Deborah Neff + Descolonizar o audiovisual: recontando narrativas africanas'.

Segundo a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Helena Vieira, responsável pela exposição em conjunto com Jeanine Bogaerts, Cynthia Dias e Verônica Soares, a escolha do tema surgiu a partir da necessidade de pensar em outra forma de falar sobre as artes,ou seja, de “descolonizar o currículo”. “O que isso quer dizer? É trazer outras referências, que não as europeias Não que a gente vá terminar com as que a gente já tem, mas pesquisar outras, que são as referências da cultura afrobrasileira, africana e as referências da cultura indígena, por exemplo”, explica Helena.

Verônica lembra que o tema geral da descolonização do currículo e o mergulho na soberania dos povos originários foi fruto das propostas de vários projetos produzidos na EPSJV/Fiocruz, como o Som e Cena e Arte e Saúde. “A exposição inclui uma rica diversidade de linguagens artísticas e que levanta para o público questões relevantes de ordem estética, política e cultural”, afirma. Além disso, continua, proporciona aos alunos e à equipe de Educação Artística o compartilhamento das diferentes formas de expressão com a comunidade escolar.

Jeanine aponta que as pessoas que entrarem na exposição encontrarão trabalhos concebidos a partir das provocações feitas nas aulas de Artes durante o ensino remoto. Ela conta que nas aulas, as professoras, que neste momento dão aula juntas, partiam sempre de um elemento ‘disparador’ para iniciar as discussões dos temas e completavam o processo com atividades e exercícios. “Nesse período utilizamos como disparador nas turmas de 2º ano, a exposição Black Dolls, de DéborahNeff e, com os 3º anos, as Lendas Africanas dos Orixás, de Pierre Verger, e o livro Contos do Baobá, que apresenta contos africanos ilustrados e adaptados por Maté”, relembra.

De acordo com o caminhar das discussões, as professoras iam buscando outras referências, que podiam ser plásticas, musicais ou cênicas para convidar os estudantes a criarem manifestações artísticas a partir de suas reflexões e experiências com os temas propostos. “Como resultado, fizemos uma live e uma exposição que não estavam previstas inicialmente, mas que apresentam toda a potência das discussões em forma de textos narrativos, poesias, músicas, sonorizações, objetos, desenhos, cenas e vídeos”, destaca Jeanine.

Verônica destaca o livro virtual ‘Lugar de falas’, que contém criações dos alunos das 2º séries provocadas pelo acervo da colecionadora afro-americana, Deborah Neff, de fotografias de bonecas negras. De acordo com ela, essas bonecas eram instrumentos de resistência da comunidade negra, uma mistura complexa de arte e política. “Eram bonecas feitas por babás, escravizadas e também por negros libertos e brancos abolicionistas para servir à causa na guerra de secessão 1861-1865 nos EUA”, contextualiza. A partir disso, Verônica afirma que os estudantes afetados pela observação sensível dessas imagens criaram textos emocionantes em várias linguagens artísticas.

Já sobre os alunos do 3º ano, Verônica ressalta a produção do vídeo ‘Travessias’, que segundo ela, expõe uma abordagem bem diversificada dos olhares, escutas, corpos, encenações a partir das inúmeras leituras e releituras das lendas dos orixás e das fotografias de Pierre Verger, das ilustrações de Carybé e das conversas sobre ancestralidades e heranças culturais afrobrasileiras. “Trazem debates sobre racismo e resistência e como a arte se posiciona, cria e recria sobre esse universo que une magia e luta”, relata.

Audiovisual

Segundo Cynthia, os trabalhos da oficina de Audiovisual, sob orientação dela e da professora Jeanine, de música, com participação da estagiária Bruna Bochorny, são adaptações de contos africanos, feitas com contribuições variadas dos estudantes. “Um dos focos da disciplina de audiovisual, coordenada por mim e pelo professor-pesquisador Gregório Albuquerque, é a produção coletiva de um curta-metragem, em que os estudantes criam uma história original e exercitam os saberes que desenvolveram no 2º ano e, principalmente, a criação coletiva. Nessa oficina, as turmas se misturaram, então tínhamos alunos de todas as linguagens, o que também trouxe um desafio e uma riqueza a mais”, conta.

Diante do desafio de descolonizar o próprio olhar para o audiovisual e produzir um algo coletivo à distância, Cynthia disse que eles decidiram não criar histórias, mas adaptar contos, exercitando a produção de imagens e sons e a colaboração. “Os contos indígenas e africanos são histórias muitas vezes desconhecidas ou desvalorizadas em prol de histórias de origem europeia, mas que trazem ensinamentos e questões importantes e promovem uma visão mais abrangente de nossas raízes”, afirma.

Depois de oficinas de leitura e compartilhamento de impressões sobre contos indígenas, Cynthia destaca que foi selecionado um conto africano para cada turma e os estudantes contribuíram com imagens e sons, pesquisando em seu entorno e na internet. “Na diversidade dos resultados, podemos ver como as realidades deles foram mescladas com a narrativa dos contos. Os curtas trazem uma conversa simulada no Whatsapp utilizando emojis e GIFs; uma animação fazendo uso de objetos domésticos, como brinquedos; e uma colagem de fotografias, vídeos e sons do entorno e de arquivo dos estudantes”, destaca, acrescentando que a criação coletiva permitiu exercitar um olhar e um ouvir atentos ao entorno e ressignificar as imagens e sons de cada um na relação com as dos outros, percebendo que mesmo à distância é possível produzir coletivamente.

Espaço de troca

Para Helena, produzir uma exposição virtual nesse momento de pandemia é extremamente relevante. “Eu diria que ela é 100% importante, porque se não for assim não teria outra forma de todo mundo poder acessar – em momentos diferentes, em locais diferentes e com mais tempo – tudo o que a gente produziu. Nossa ideia era que dessa vez fosse uma plataforma aberta de internet mesmo. É uma troca muito rica”, garante.

“Pudemos perceber, através da mídia e do relato das pessoas, o importante papel que a arte desempenhou e continua a desempenhar durante o período de pandemia. Presente como forma de externar emoções, ideias e sentimentos, ela pode alterar estados emocionais, contribuindo para o bem estar das pessoas”, ressalta Jeanine, que acredita que além de cumprir esse papel, a exposição também se mostra como alternativa para professores e professoras de arte que se viram longe de suas salas de aula, da troca e da construção que aconteciam nas aulas presenciais. Na visão de Verônica, a arte é essencial em todos os momentos. “É a expressão da vida. Agora compartilhada, ganha novos olhares e repercussões”, conclui.

A exposição contou com a colaboração de estagiários de Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e com participações especiais da professora de dança da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EPSJV/Fiocruz, Jéssica Lima, e do professor do Colégio de Aplicação (CAp) da Uerj, Fernando Rodrigues, responsável pelo projeto Investigações fotográficas.

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