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Entrevista

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  • 24/10/2025 11h11 Entrevista

    Em 2024, o Brasil tinha 1,65 milhão de pessoas que desenvolviam, como atividade principal, um trabalho realizado por plataformas. Dessas, a maior parte (878 mil) eram motoristas de aplicativos de passageiros, como uber e 99, seguidos pelos entregadores de comida e outros produtos, que somavam 485 mil. Diante do tamanho do mercado de trabalho brasileiro, esses números não parecem alarmantes, ao contrário: representam apenas 1,9% da população ocupada, sem considerar os servidores públicos e militares. O crescimento, no entanto, é significativo: em apenas dois anos, o volume desses trabalhadores aumentou em 25%. Os dados são do módulo sobre ‘Trabalho por meio de Plataformas Digitais’ da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do segundo estudo que o IBGE faz sobre essa realidade, que tem introduzido novidades e desafios para as políticas públicas relativas ao mundo do trabalho no país e no mundo. Nesta entrevista, o pesquisador do Cesit, o Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Unicamp, conta que, a partir de agora, esse mapeamento será feito todos os anos, permitindo que se acompanhe mais de perto a evolução desse tipo de trabalho e as características e condições de vida de quem tem nele o seu principal meio de sustento. Tal como no retrato anterior, a maior concentração de trabalhadores por plataformas continua se dando em serviços de motoristas de passageiros e entrega por aplicativo – no setor de transporte, armazenagem e correios, o trabalho por plataformas corresponde a 22% dos ocupados no país. Mas a grande novidade é que o maior crescimento (de mais de 52%) se deu nas plataformas de prestação de serviços gerais ou profissionais, que podem envolver atividades diversas, como saúde, educação e serviço doméstico. Embora não acredite que a plataformização vá ‘tomar conta’ do mercado de trabalho brasileiro, Dari Krein chama atenção para a tendência de que essas novas relações de trabalho se espalhem para outras áreas e profissões. Em contrapartida, o menor crescimento (8,9%) se deu entre os entregadores, o ‘elo’ mais fraco e desprotegido desse novo cenário de plataformização. Apesar de ter havido uma pequena queda na jornada dos trabalhadores plataformizados, a pesquisa mostra que eles ainda trabalham, em média, 5,5 horas a mais que os outros. Isso, aliás, ajuda a explicar que eles tenham, também em média, uma remuneração um pouco maior do que a dos trabalhadores não plataformizados – e vale ainda ressaltar que essa diferença se reduziu de 2022 para cá. Como destaca Dari Krein nesta entrevista, embora a busca por uma remuneração maior seja um dos principais atrativos para quem decide ingressar no mercado de trabalho por plataformas, essa superioridade ‘salarial’ não é real: em primeiro lugar, porque ela esconde a falta de direitos trabalhistas, como férias remuneradas e décimo terceiro salário; segundo, porque não leva em conta os custos que os trabalhadores têm com a manutenção dos veículos, celular e internet, entre outros; terceiro, porque refere-se a uma carga horária muito maior – não por acaso, a pesquisa do IBGE mostra que, quando se observa a remuneração por hora, a relação se inverte e os trabalhadores não plataformizados voltam a ganhar mais do que aqueles que atuam por aplicativos. O mais importante, na avaliação do professor da Unicamp – instituição que foi parceira do IBGE junto com o Ministério Público do Trabalho na pesquisa que acaba de ser divulgada – é compreender em que tipo de mercado de trabalho essas novas relações plataformizadas se instalam e se expandem. Como mostra o estudo, o maior ganho proporcional de remuneração que se tem no trabalho plataformizado se dá entre os segmentos com menos instrução formal, que, portanto, costumam ocupar postos mais precarizados e com salários mais baixos no mercado em geral. De acordo com o mapeamento, trabalhadores que têm apenas ensino fundamental completo ou ensino médio incompleto ganham, em média, R$ 907 a mais no trabalho por aplicativos do que nas ocupações que conseguiriam fora das plataformas. Entre os que não têm instrução ou não completaram o ensino fundamental, essa diferença é de R$ 802. Para os que têm ensino médio completo ou mesmo o ensino superior incompleto, o trabalho por plataforma oferece, em média, apenas R$ 355 a mais. E a ‘prova’ de que o trabalho por plataformas tem sido um refúgio para quem quer fugir de um mercado muito precarizado é que quando se considera o contingente da população que concluiu a graduação, a relação se inverte: nesse recorte, são os trabalhadores não plataformizados que ganham, em média, mais de R$ 1.800 a mais que os plataformizados. Como resume Dari Krein: “O que alguns não admitem é que esse tipo de atividade pegou porque o mercado de trabalho é muito ruim, os salários são muito baixos, as condições de trabalho são muito draconianas, a jornada é muito extensa”.

  • 17/10/2025 10h23 Entrevista

    Foi em 1963 que um decreto do então presidente Joao Goulart estabeleceu o 15 de outubro como momento de homenagem e reconhecimento ao trabalhado dos professores no Brasil. A data, no entanto, remete a um outro decreto, de 1827, pelo qual o imperador D. Pedro I determinava que todas as cidades do país deveriam ter ‘Escolas de Primeiras Letras’, que equivaliam, mais ou menos, ao que hoje conhecemos como Ensino Fundamental. Passados 198 anos desse primeiro marco, há muito o que se comemorar em relação à situação dos professores brasileiros, mas também há muito ainda a se conquistar – e os desafios vão desde o cumprimento da lei do piso salarial até a garantia de banheiro e água potável em todas as escolas. A avaliação é de Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) desde 2017, professor concursado da rede estadual de Pernambuco e da rede municipal de Paulista (PE) desde 1993. Nesta entrevista, ele denuncia a ação dos gestores que descumprem a legislação e ajudam a tornar a carreira docente menos atrativa, critica o tipo de formação, predominantemente privada e à distância, que os professores da Educação Básica têm recebido e analisa o impacto de programas e políticas recentes sobre a categoria. É com preocupação, inclusive, que Heleno Araújo comenta o parecer do Projeto de Lei (PL) do novo Plano Nacional de Educação (PNE) apresentado no último dia 14 de outubro na Câmara pelo relator, deputado Moses Rodrigues (União-CE). “Essas contas não batem”, diz.

  • 10/10/2025 11h35 Entrevista

    A primeira vez que uma equipe de reportagem da Escola Politécnica da Fiocruz entrevistou o professor Carlos Jamil Cury, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), foi em 2009, como parte do debate preparatório para a 1ª Conferência Nacional de Educação (Conae). Depois vieram muitas outras conversas e, em quase todas elas, o tema principal era a importância – e a expectativa – de que o Brasil instituísse um Sistema Nacional de Educação (SNE), capaz de articular as ações do governo federal, estados e municípios em relação à oferta, à organização pedagógica e ao financiamento da Educação no país. Realizada em 2010, aquela 1ª Conae mobilizou milhares de pessoas em torno do tema ‘Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educação, diretrizes e estratégias de ação’ e resultou em propostas concretas, mas nada se efetivou. Tantos anos depois, finalmente acaba de ser aprovado pelo Senado, no último dia 7 de outubro, o Projeto de Lei nº 235/2019, que cria o Sistema Nacional de Educação. O texto é de autoria do senador Flávio Arns (PSB-PR), foi modificado na Câmara dos Deputados em setembro, voltou para o Senado e agora, após aprovação do relatório da senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO), segue para a sanção presidencial. Nesta nova entrevista, Cury explica a importância dessa conquista, analisa os termos do projeto aprovado e historiciza a oposição que essa medida sofreu ao longo das décadas, mapeando, inclusive, os interesses divergentes que ainda permanecem em relação a alguns pontos, principalmente o financiamento.

  • 03/10/2025 10h09 Entrevista

    Pela primeira vez, em 2024, o Brasil teve mais matrículas de graduação à distância do que em cursos presenciais. A informação, trazida pelo Censo da Educação Superior, divulgado no último dia 22 de setembro, pode ter causado um certo choque, mas a observação atenta dos dados da última década mostra que essa era uma tragédia anunciada. Para piorar o cenário, a taxa de evasão segue tendência diametralmente oposta: mais de 24% dos ingressantes nos cursos EaD abandonam os estudos, contra 9,5% nos presenciais. Como uma pista que ajuda a entender como chegamos a esse ponto, o mapeamento feito pelo Inep, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira, mostrou, ainda, que quase 96% desses cursos à distância estão concentrados nas instituições privadas, em especial, aquelas com fins lucrativos. Completando esse desenho, o censo informa que, nos últimos dez anos, a rede privada de ensino superior cresceu mais de 73%, contra menos de 5% da rede pública. Nesta entrevista, Maria Angélica Minhoto, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora de pesquisa do Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU Ciência), analisa esses dados, historiciza o processo de transformação do “modelo de negócios” das instituições privadas de ensino superior e comenta sobre o novo marco regulatório da EaD no Brasil, o decreto 12.456, publicado em maio de 2025. Avaliando o caminho adotado pelas políticas públicas ao longo dos diferentes governos, a pesquisadora até admite que a estratégia de ampliar o acesso ao ensino superior com a participação de instituições privadas poderia “fazer parte do jogo”, mas alerta que “não nessa dimensão”. “Esse modelo de Educação Superior que a gente tem no Brasil é uma coisa não comparável”.

  • 19/09/2025 11h32 Entrevista

    Há algumas semanas, no final de agosto, o Brasil ganhou uma Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica. Essa é a novidade. Mas nem tanto. Instituído por decreto, o texto regulamenta um artigo de outra lei, nº 14.645, promulgada em 2023. E como não poderia deixar de ser, reflete os resultados da correlação de forças que se tinha naquele momento. Essa é a linha de argumentação que Almerico Lima, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e integrante da Rede de Ensino, Pesquisa e Extensão da Educação Profissional e Tecnológica Pública do estado (REDEEPT), desenvolve nesta entrevista. Segundo ele, nas comissões e grupos de trabalho promovidos para formular essa e outras iniciativas voltadas para esse segmento de ensino no âmbito do governo federal, tem prevalecido, inclusive numericamente, uma visão empresarial que aposta na expansão da oferta pelo setor privado, com recursos públicos. Nesse cenário, alerta o professor, perde espaço também o investimento na Educação Profissional integrada ao Ensino Médio, que foi o carro-chefe das políticas dessa área 20 anos atrás, nos primeiros governos do Partido dos Trabalhadores. Nesta conversa, que a segunda promovida pelo Portal EPSJV/Fiocruz sobre o tema, Almerico Lima analisa ainda o que deve ser prioridade no debate sobre o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Profissional e Tecnológica, instituído pelo mesmo decreto da Política, embora ainda esteja em construção.

  • 17/09/2025 16h15 Entrevista

    A Constituição Brasileira diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Na prática, essa igualdade ainda encontra diversos entraves para se estabelecer, especialmente quando se tem impedimentos que prejudicam a participação em sociedade em igualdade de condições. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, entre as 198,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade, 7,3% eram pessoas com deficiência. Foi para “assegurar e promover o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência”, que há dez anos era sancionada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). A LBI é uma lei ampla: aborda o direito à saúde, à educação inclusiva, à moradia, ao trabalho, à assistência social, à cultura, entre outros, promovendo inclusão social e cidadania. Ela foi criada como uma forma de concretizar no Brasil a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), da Organização das Nações Unidas (ONU), assinada em Nova York, em 2007, e promulgada no Brasil em 2009, realizando pela primeira vez uma abordagem que se desloca da “doença” e se baseia nos direitos humanos. Nesta entrevista, Leonardo Oliveira, membro da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas da Fundação Oswaldo Cruz (Cedipa/Fiocruz), e consultor em acessibilidade e audiodescrição, debate as principais conquistas garantidas pela LBI na sua primeira década de existência. Oliveira, que é um homem cego, aponta ainda caminhos rumo a uma vida com autonomia e garantia de direitos diante dos inúmeros desafios que permanecem para as pessoas com deficiência.

  • 12/09/2025 11h37 Entrevista

    O número de estudantes do Ensino Médio que cursam também Educação Profissional no Brasil quase dobrou entre 2013 e 2023 mas, ainda assim, é muito inferior à média dos países da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico: 14% contra 44%. Os números, que se referem a 2024, são do mais recente relatório ‘Education at a Glance’, produzido anualmente pela OCDE, que teve sua mais nova versão divulgada nesta terça-feira (9/09). Os dados são atualizados, mas a comparação é antiga, quase um “senso comum” do debate sobre esse segmento educacional, como caracteriza Luzia Mota, reitora do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e coordenadora da Câmara de Ensino do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif). A questão, diz ela, é que a demanda por expansão da Educação Profissional no país não pode perder de vista o debate sobre a qualidade dessa oferta, o que requer investimento e um modelo de formação integral que, por exemplo, vá além do foco no mercado de trabalho. Esse foi o olhar que, segundo Mota, o conselho que reúne reitores da mais reconhecida rede de Educação Profissional no país tentou pautar também na Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), instituída por decreto presidencial (nº 12.603) no último dia 28 de agosto. Construído com a contribuição de um Grupo de Trabalho (GT) do qual ela participou, o texto, de fato, inclui, entre os seus objetivos, o fomento à “expansão e à ampliação das instituições e da oferta da educação profissional e tecnológica”, ao mesmo tempo em que afirma que a Política “tem como finalidade a formação integral e cidadã da população”. Embora apresente também contradições – como o fato de praticamente indiferenciar as redes públicas e privadas como estratégia de expansão da EPT –, a Política tem, na avaliação de Mota, a importância de “institucionalizar” diretrizes para esse segmento nas diferentes instituições e redes de ensino. Nesta entrevista, ela explica ainda sobre a atuação dos Institutos Federais para o fortalecimento da Educação Profissional nas redes estaduais, critica a falta de investimento federal na última década e fala sobre a grande novidade trazida pela Política recém-lançada: a criação do Sistema Nacional de Avaliação da EPT, que será elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep.

  • 29/08/2025 11h36 Entrevista

    Violência e acidentes de trânsito são as duas principais causas de morte de jovens no Brasil. Os dados são do Informe ‘Violência e Acidentes’, que acaba de ser divulgado pela Fiocruz, como parte de uma série de boletins sobre a situação de saúde da juventude brasileira. Confirmando o diagnóstico que outros estudos já vinham apontando, a pesquisa mostra que 48% dos óbitos na juventude se devem à agressão, número que sobe para 50,6% quando se trata especificamente dos homens. Já entre as mulheres de 15 a 29 anos, as agressões ocupam o segundo lugar no ranking de mortalidade, com 28,8%, seguida pelo suicídio (identificado no texto como “lesões autoprovocadas voluntariamente”). Em primeiro lugar, nesse caso, estão os acidentes de transporte, responsáveis pela morte de 31,3% das mulheres jovens. Entre os homens, essa causa de óbito ocupa a ‘vice-liderança’, com 21%. Apesar disso, os homens jovens representam 84% das vítimas de acidentes fatais. Uma das novidades desse novo Informe – que é parte de uma série que vem mapeando as condições de adoecimento e óbito da juventude a partir dos sistemas de informação do SUS, o Sistema Único de Saúde –, é a constatação de que grande parte desses acidentes envolve motociclistas: 53% entre os homens e 40% entre as mulheres. É a partir dessa pista, que pode apontar novas determinações da relação entre trabalho e mortalidade na juventude, chamando atenção para a atuação dos jovens na prestação de serviços de aplicativos, que a socióloga Helena Abramo desenvolve as análises que você lerá nesta entrevista. Ela acompanha de perto essa série de boletins produzidos pela Fiocruz e, inclusive, coordenou, junto com os pesquisadores responsáveis pelo Informe recém-divulgado, um estudo anterior, publicado em 2023, com o título ‘Panorama da situação dos jovens brasileiros: interseções entre Juventude, Saúde e Trabalho’. Nesta conversa com o Portal EPSJV/Fiocruz, Abramo parte desses e outros dados do Informe para analisar as condições de trabalho dos jovens e sua relação com a saúde. Fala sobre a sobrecarga que costuma marcar essa fase da vida, com o acúmulo de estudo, emprego e cuidado doméstico, defende a importância do Breque dos APPs e do Movimento VAT, Vida Além do Trabalho, na visibilidade de problemas que atingem principalmente os jovens.

  • 22/08/2025 11h26 Entrevista

    Diante de uma mobilização nacional, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 20 de agosto, o Projeto de Lei nº 2.268/2022, que trata da proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais. Num país que caminhava a passos lentos na direção da regulação das redes sociais e plataformas digitais, foi um grande avanço. Tudo começou com o vídeo do influenciador Felipe Bressanim, conhecido como Felca, que denunciou processos de “adultização” e sexualização de crianças e adolescentes nas redes sociais. No momento em que este texto está sendo escrito, o vídeo já tinha alcançado mais de 50 milhões de visualizações, gerando reações imediatas na mídia, nas organizações da sociedade civil e no parlamento. No que diz respeito aos riscos da exposição de crianças e adolescentes tanto ao excesso de tela quanto aos algoritmos e à lógica de monetização das plataformas digitais, tudo começou muito antes. Não é de hoje que pesquisadores e entidades de diversas áreas apontam a relação desse novo cenário com problemas como o aumento da violência nas escolas e danos à saúde de crianças e adolescentes. Nesta entrevista, a médica Evelyn Eisenstein, assessora de Políticas Públicas da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica por que adolescentes são um ‘público’ mais vulnerável a esse ambiente digital, enumera os problemas físicos, mentais e psicossociais relacionados a ele, defende a necessidade de campanhas públicas sobre o tema e denuncia os interesses das chamadas big techs. Ela é também coordenadora do Grupo de Trabalho de Saúde Digital, da SBP, criado em 2016, e participou ativamente da mobilização pela aprovação do PL 2.268. Modificado pelos deputados na Câmara, o texto voltará para apreciação do Senado, que foi sua Casa legislativa de origem.

  • 15/08/2025 10h41 Entrevista

    A campanha foi pelo veto integral ao projeto. Como era de se esperar, ele não veio. Mesmo assim, a coordenadora do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, comemora os 63 dispositivos do PL da Devastação que o presidente Lula deixou de fora quando sancionou a Lei 15.190/2025. “Ainda bem que o governo fez isso”, diz, defendendo que a sociedade civil precisa agora lutar para que esses vetos não sejam derrubados no Congresso. Mesmo essa improvável vitória, no entanto, não resultaria numa legislação que ela considere boa para o país. “Essa lei é um equívoco”, lamenta. Soma-se a isso o fato de o governo ter mantido mudanças que pesquisadores e militantes da área têm denunciado como graves retrocessos, com destaque para a Licença Ambiental Especial (LAE), que foi, inclusive, incluída na Medida Provisória (nº 1.308) apresentada pelo Executivo como complemento à lei sancionada. Nesta entrevista, Araújo comenta as principais decisões da resposta do governo ao Projeto 2.159/2021, explica como funciona o licenciamento ambiental no Brasil hoje e dá exemplos concretos dos efeitos prejudiciais que algumas das mudanças propostas podem causar ao meio ambiente e à saúde da população.