Entrevista
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A campanha foi pelo veto integral ao projeto. Como era de se esperar, ele não veio. Mesmo assim, a coordenadora do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, comemora os 63 dispositivos do PL da Devastação que o presidente Lula deixou de fora quando sancionou a Lei 15.190/2025. “Ainda bem que o governo fez isso”, diz, defendendo que a sociedade civil precisa agora lutar para que esses vetos não sejam derrubados no Congresso. Mesmo essa improvável vitória, no entanto, não resultaria numa legislação que ela considere boa para o país. “Essa lei é um equívoco”, lamenta. Soma-se a isso o fato de o governo ter mantido mudanças que pesquisadores e militantes da área têm denunciado como graves retrocessos, com destaque para a Licença Ambiental Especial (LAE), que foi, inclusive, incluída na Medida Provisória (nº 1.308) apresentada pelo Executivo como complemento à lei sancionada. Nesta entrevista, Araújo comenta as principais decisões da resposta do governo ao Projeto 2.159/2021, explica como funciona o licenciamento ambiental no Brasil hoje e dá exemplos concretos dos efeitos prejudiciais que algumas das mudanças propostas podem causar ao meio ambiente e à saúde da população.
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Foi grande a mobilização de entidades científicas e organizações da sociedade civil quando, ainda em 2021, o Projeto de Lei 2.159 foi aprovado na Câmara dos Deputados. As denúncias, de que a proposta desmontaria a legislação ambiental brasileira, com efeitos diversos sobre o meio ambiente e a saúde da população, certamente contribuíram para que a tramitação do texto não fosse tão rápida quanto se temia naquele momento. Uma mobilização talvez até mais ampla, que envolveu manifestações artísticas e muito barulho nas redes sociais, voltou a acontecer este ano, mas não surtiu o mesmo efeito: no dia 17 de julho, foi aprovado aquele que já entrou para a história como o ‘PL da Devastação’. Transformado na Lei 15.190/2025, o texto foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada com 63 vetos, que vieram acompanhados de uma Medida Provisória (MP) e outro Projeto de Lei sobre o tema, ambos iniciativas do governo federal. A resposta que o Executivo promoveu sobre o desmonte da legislação ambiental tem causado debates calorosos. Nas páginas e telas dos principais jornais, entidades empresariais de diferentes segmentos criticam o governo pelo “retrocesso”, enquanto organizações científicas e movimentos sociais comemoram os vetos e, em alguns casos, consideram que era preciso ter ido além. Nesta entrevista, o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), que integra o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), classifica como imprescindíveis os vetos feitos pelo governo que, na sua avaliação, está buscando firmar com o Congresso um compromisso de garantir o desenvolvimento econômico sem pôr em risco o meio ambiente e a saúde da população brasileira. Mas ele também aponta zonas de sombra – como os critérios para se definir se um empreendimento tem pequeno, médio ou alto potencial de impacto ambiental – e faz críticas à manutenção de um mecanismo chamado Licença Ambiental Especial (LAE), que permite que critérios políticos e econômicos se sobreponham à análise técnica no caso de alguns empreendimentos.
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Na semana em que se celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas - 9 de agosto - o Portal EPSJV entrevista a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, que fala sobre a participação indígena em espaços de poder dentro e fora do Brasil e também aborda questões relacionadas à saúde, educação, tecnologia e direitos fundamentais na perspectiva dos povos indígenas.
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O Brasil descumpriu sua meta central de inflação: com alarde e apelos à "responsabilidade fiscal" do governo, a notícia está estampada em todos os jornais desde que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anunciados em 10 de julho, mostraram uma alta de 0,24% nos preços em junho. A conclusão se baseia no cálculo da inflação dos últimos 12 meses, que, somada, teria ultrapassado a meta de 3% ao ano e a margem de tolerância de 1,5%, definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Essa é a novidade, que acaba de sair do forno. Já o que não tem nada de novo é a prática de se definir política econômica a partir de concepções e ferramentas que, apesar de terem se tornado hegemônicas, estão longe de serem as únicas. O aumento da taxa de juros para controlar a inflação e a própria existência de uma meta são, como explica Marina Gouvêa nesta entrevista, exemplos de medidas que, ao contrário do que a leitura da maior parte da imprensa possa fazer parecer, estão longe de ser consensuais ou inquestionáveis entre as diferentes correntes do pensamento econômico. Esta entrevista aconteceu no final de 2024, como parte da apuração de uma pequena matéria sobre a história, o papel e as controvérsias relacionadas ao Banco Central, publicada na edição 97 da Revista Poli. Naquele momento – nem tão distante assim – o pomo da discórdia entre a instituição e o governo, a taxa Selic, estava em 12,5%, suficiente para colocar o Brasil em segundo lugar no ranking dos juros mais altos do mundo. Agora, o BC tem outro presidente, indicado pelo governo atual e aprovado pelo Senado, mas a escalada dos juros não parou: acaba de ser anunciado um outro aumento da taxa, que chega a 15%. E o anúncio do descumprimento da meta da inflação tende a piorar esse cenário. Nesta entrevista, além de explicar termos técnicos que costumam passar ao largo da maioria da população, Marina Gouvêa, economista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresenta as diferentes teorias do pensamento econômico, situa as divergências em torno da taxa de juros como parte das disputas entre blocos de poder na sociedade e analisa os impactos políticos das concepções econômicas que se tornaram hegemônicas sobre os trabalhadores e as democracias.
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Terminou na segunda-feira, 7 de julho, a 17ª Reunião da Cúpula do Brics, que aconteceu no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Com um noticiário que enfocou principalmente as pautas econômicas, inclusive a ameaça do presidente estadunidense Donald Trump de aumentar as tarifas de importação dos produtos dos países do bloco, talvez poucos tenham notado que questões de Saúde Pública também foram tema do encontro, que, entre outras medidas, incluiu na sua declaração final uma parceria para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas. A preocupação é com os diferentes tipos de enfermidades que atingem as populações mais vulnerabilizadas, a exemplo da tuberculose, hanseníase, malária e HIV/Aids. Como se sabe, o Brics é um bloco de articulação política e econômica entre 11 países de economia emergente: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. E a ideia é desenvolver conjuntamente e compartilhar iniciativas voltadas ao combate de doenças associadas à pobreza e à desigualdade que permanecem como desafio para esses países. Para se ter uma dimensão da importância do tema, mais de 50% dos casos de tuberculose no mundo hoje foram registrados nos países que compõem o Brics. Nesta entrevista, a pesquisadora Alda Cruz, que é atual vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz e foi coordenadora adjunta do Programa Brasil Saudável, que serviu de referência para essa nova parceria internacional, explica o que são doenças socialmente determinadas e analisa a importância de esse tema ter sido alçado à prioridade dos chefes de Estado que compõem o Brics.
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A espera foi longa e ainda não se sabe quais serão os próximos passos, mas não há dúvida de que se trata de uma boa notícia: com um atraso de mais de dez anos, acaba de ser criado o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos, o Pronara. A expectativa era de que ele tivesse sido lançado em 2014, quando, mesmo após uma ampla discussão que envolveu vários ministérios, órgãos públicos e representantes da sociedade civil, o texto final acabou sendo embarreirado pela Pasta da Agricultura. Passada mais de uma década, com o novo governo e a retomada de várias iniciativas públicas no âmbito da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, um novo Grupo de Trabalho (GT) foi criado para tocar o desenho do Programa. A primeira promessa era que o lançamento ocorreria em dezembro passado. Depois o cronograma foi novamente adiado para março de 2025. Finalmente, no último dia 30 de junho, sem propriamente um ‘aviso prévio’, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto nº 12.538, que institui o Pronara, com o objetivo de reduzir o uso de agrotóxicos no país. Para Luiz Cláudio Meirelles, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), ex-gerente da área de toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e representante da Fiocruz tanto no GT de agora quanto do que elaborou o documento de 2014, foi uma “boa surpresa”. Nesta entrevista, ele faz uma primeira análise do decreto: critica as passagens do texto que parecem focar a redução de agrotóxicos apenas em práticas agroecológicas e familiares e não na agricultura como um todo, defende que não se perca o acúmulo de debate do passado no detalhamento do programa e reafirma a urgência de se colocar o Pronara em prática para proteger o meio ambiente e a saúde da população.
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Oficialmente, a Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora que vai acontecer em agosto deste ano está na sua 5ª edição. A expectativa, no entanto, é que ela seja uma espécie de ‘Oitava’ – uma referência ao encontro de participação social que, em 1986, representou uma guinada para o movimento sanitário, construindo as bases do que viria a ser o Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa vez, a “mudança de paradigma” que se espera está anunciada no tema central da Conferência: o reconhecimento da Saúde do Trabalhador como Direito Humano. Nesta entrevista, Luiz Carlos Fadel, professor e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) explica, defende e dá exemplos do que essa proposta significa. Com um olho na trajetória recente das lutas identitárias e outro na atuação que a Vigilância já tem em áreas como a saúde materna, Fadel, que é médico com experiência em Saúde Pública e Saúde do Trabalhador, argumenta que é preciso construir um novo ordenamento jurídico de proteção ao trabalhador, que vá além da legislação trabalhista e previdenciária, crie novas formas de responsabilização das práticas de exploração e englobe quem está na informalidade. E se alguém tem dúvida sobre a urgência dessa pauta, ele lembra que, além de estarmos assistindo a uma quase “epidemia” de sofrimento mental, a cada 15 minutos uma pessoa morre por doença ou acidente de trabalho no mundo, segundo dados de 2023 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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Está chegando ao fim o período de vigência do atual Plano Nacional de Educação (PNE). Estabelecido em 2014 pela lei 13.005 e com prazo até o final de 2025, o Plano fixou 20 metas a serem cumpridas até lá. Poucas delas foram cumpridas. É o que alerta o relatório ‘11 anos do Plano Nacional de Educação: análise da execução das metas da lei 13.005/2014’, divulgado hoje (16) pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O documento inédito aponta que apenas quatro das 20 metas foram cumpridas até aqui, e as demais dificilmente serão cumpridas no prazo. Um passivo que deve ficar para o próximo PNE, segundo a coordenadora geral da Campanha, Andressa Pellanda, para quem o descumprimento do Plano reflete as políticas que foram adotadas em meio à sua vigência, a exemplo do Novo Arcabouço Fiscal – que diminuiu alguns dos efeitos da Emenda Constitucional 95, o Teto de Gastos, mas manteve sua lógica de austeridade fiscal, inviabilizando o aumento gradual de recursos para a educação pública defendido pelo PNE – além do Novo Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Em vez de avançar, o próximo PNE pode ficar refém da necessidade de remediar falhas estruturais”, alerta Pellanda.
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O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para responsabilizar as plataformas digitais por conteúdos danosos que circulem nas redes sociais. A justiça de São Paulo condenou um humorista à prisão por identificar racismo e incitação à violência, entre outros crimes, no seu show de stand up. A prisão de um MC do Rio de Janeiro aumentou a discussão sobre o que pode ou não ser considerado apologia ao crime. Todos esses episódios são recentes – e trazem para o centro do debate público o tema da liberdade de expressão. Nesta entrevista com o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Luís Felipe Miguel, você não lerá opiniões e análises sobre nenhuma dessas polêmicas em particular, embora o pesquisador aborde questões como a regulação das plataformas digitais e dos meios de comunicação de massa e as estratégias de desinformação e disseminação de discurso de ódio. O ponto central dessa conversa, realizada em 2022 para um verbete sobre ‘Liberdade de Expressão’ da Revista Poli nº 84, era explicar as origens do conceito, discutir as adaptações necessárias para o exercício desse direito na sociedade atual e mostrar as dificuldades por trás dos usos que a extrema-direita tem feito desse princípio. Três anos depois, o debate permanece mais atual do que nunca.
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No dia 12 de junho é comemorado o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, efeméride instituída pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para chamar atenção para a permanência, até hoje, dessa chaga do mundo do trabalho em nível global. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 1,6 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil em 2023. Em 2015, o país se comprometeu junto à ONU erradicar o trabalho infantil em 10 anos, prazo que termina no final de 2025. Secretaria executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), Katerina Volcov fala nesta entrevista sobre os desafios para a erradicação do trabalho infantil no país.